19 dezembro 2023

QUE MUNDO É ESSE 1

 

QUE MUNDO É ESSE !

 

Acordo cedo e sento-me no terraço para contemplar o sol de Primavera que ilumina e aquece as majestosas árvores que buscam o céu.

Os colibris saltitam no espaço bicando as gotas de orvalho depositadas na superfície das folhas.  Os pardais volteiam, os sabiás cantam e as saíras alegram a paisagem com suas asas coloridas.

Crianças brincam na calçada numa folgança invejável.

 De nada mais preciso para ser feliz nesta “Mansão no Paraíso”, casa de 200 metros quadrados, onde moro, com minha família, no bairro do Mury, Nova Friburgo.  

No entanto, abro os jornais e me apavoro. Na capital do Estado, de onde venho, a vida tornou-se perigosa. Roubos, assaltos, brigas, acidentes de todo o tipo estão deixando o cidadão em pânico. As praias são o cenário preferido. Assaltos a turistas, arrastões de todo o tipo comprometem a imagem do país no exterior.

Se olho a televisão, o quadro é ainda mais aterrador. No Estado de São Paulo, até as rodovias sofrem assaltos.  Automóveis de passageiros, caminhões de transporte de carga, veículos bancários para entrega de valores, são interceptados ao longo da estrada. Às vezes a Polícia entra. E aí a matança é recíproca.

 No resto do mundo, a coisa é muito pior. A guerra na Ucrânia está longe de terminar.

No chamado  Oriente Médio países árabes estão vivendo um drama inimaginável, metidos numa guerra fratricida. Sob o comando de militares fardados, um grupo de fanáticos decidiu extinguir a raça dos Judeus.

Denominado “RAMAS” , os recursos desse grupo, tanto em armamentos como em território, são imensos. Segundo consta, o apoio financeiro vem do Iran e da Arábia Saudita.

Evidentemente, esse ataque provocou um revide por parte de Israel, que disparou seus canhões para se defender. E implantou-se a guerra.

Até onde cheguei, não vi quando poderá terminar. Nem precisa.  Guerras são devastadoras e não têm vencedor.

A que ponto chegou o ser humano. Não sei o que dizer, mas a solução está naquele velho refrão:

“PAREM O MUNDO, QUE EU QUERO DESCER”

16 dezembro 2023

VOU ME RENOVAR

 

VOU ME RENOVAR

 

 

 

PRECISO ME RENOVAR

Renovar ? Renovar como ?  Ainda não sei.  O que sei é que, chegado à vetusta idade, que nem sequer mereço  encontro-me com um emaranhado de ideias que fervem na cabeça, comprometendo a temperatura do resto do corpo.

Quando era menino, e com isto eu me refiro aos 12 anos, eu assistia à Missa na igreja do bairro onde morava, a Vila Maria, em São Paulo. Fervoroso católico, resolvi ler a história dos grandes convertidos: Thomas Merton, Santo Agostinho e outros.  Quando vi os argumentos que motivaram a sua conversão, eu me desconverti. E me declarei ateu.

 

Aos 14 anos, escrevi meu primeiro poema: “Poema Controverso”.

 

Se eu pudesse amar, amaria tudo

Mas amaria você sobretudo

Amaria as crianças que riam e os velhos que choram

O barulho das fábricas e o silêncio da noite

Os sapos no charco, as estrelas no céu

As gotas de orvalho nas folhas das rosas

E os raios de sol nas manhãs preguiçosas.

 

            E patati . . .  patata . . . os versos continuaram

           pipocando e fecharam :

Se eu pudesse amar, amaria, até mais não parar

O próprio Deus que me fez incapaz de amar

Neste ponto, eu resolvi amenizar as coisas. Retirei o ateu e me declarei agnóstico.

Mas a juventude não terminava aí. Naquela época os estudantes tinham uma associação na qual defendiam seus direitos político. Fazíamos reuniões, todos discutiam mas ninguém me deixava falar. Logo descobri que, com o nome de Spreafico e com a cara  de fogoió que me representava, eu devia ser de outro planeta.

Então comecei a ler Marx e Engels.

Entusiasmado com a teoria marxista da  “Mais Valia”, resolvi estudar melhor o Comunismo. Acompanhei como era a vida em Cuba. Cheguei a ler a revista Novos Rumos, que circulava na época. Um horror. Nesses tempos eu andava ocupado representando no Teatro do Parque, no Recife, a peça “A Pena e a Lei” do Ariano Suassuna. E foi o que me ajudou pois concluí que da Política eu devia ficar longe.

Hoje sou chamado de covarde, porque não vou para as ruas participar das manifestações, que nem sequer sei a quem vão esculachar. Credo Crucis.

Dentro do miolo mole que ainda me resta, comecei a refletir :Quem sou eu ?   O que estou fazendo nesta vida ?  Deve haver algo mais neste Universo Planetário que ocupamos.

Sem dúvida, existe : A Reencarnação. E comecei a ouvir a voz da consciência.  

Uma voz carinhosa me sussurrou : O Espiritismo está aqui ao teu lado. Mediuns e    assessores te ajudarão na caminhada.

É pra lá que eu vou.

 

 

 

 

 

05 dezembro 2023

DIVERTIMENTO - Partes 2 e 3

 

 

PARTE  2

 Logo chegaram as máquinas.  Tínhamos 3 galpões no prédio da Escola, cada um com 100 metros de comprimento: Fiação, Tecelagem e Acabamento.  

Saco Lowell, na Sala de Abertura. Teares Draper e Cromptom na Tecelagem. As máquinas sendo montadas com a ajuda dos alunos. Uma atividade frenética, marcada pelo cheiro do algodão cru, um verdadeiro afrodisíaco.

Nas horas vagas eu frequentava as oficinas, montava e desmontava máquinas fazendo um treinamento adicional.

Setenta e cinco anos se passaram. A Escola Técnica de Indústria Química e Têxtil cresceu, transformou-se em um Centro Tecnológico de grande repercussão, expandiu suas atividades para além de um simples processo de transformação de matérias primas, abrangendo novos segmentos da cadeia têxtil. Paralelamente, em 1962, criou-se a ABTT – Associação Brasileira de Técnicos Têxteis -  que congrega os profissionais têxteis e continua seu aperfeiçoamento através de Congressos, Seminários e Feiras, entre outras atividades e que desempenha hoje um papel importante na integração Universidade/Empresa.

 

PARTE 3

O DIVERTIMENTO

Por volta dos anos 50, eu aproveitei a oportunidade que me ofereceram para fazer teatro. Havia sido inaugurada em Fazenda Nova, Município de Brejo da Madre de Deus – PE, uma construção em pedra local, esculpida pelos matutos analfabetos, que reproduzia a cidade de Jerusalém com todas as edificações, ruas e enfeites. Na Semana Santa, era ali representada uma peça teatral denominada “A Paixão de Cristo”. O espetáculo durava três dias. Começava com a Santa Ceia, na Quinta-feira Santa e terminava com a Ressureição.

Eu fui convidado para fazer o papel do Longuinho – Longinus – o soldado romano que era cego. Na cena em que aparece o Cristo Crucificado,  Longuinho pede a um outro soldado presente que o ajude a espetar uma lança no coração de Jes’us. Ao fazê-lo, faz jorrar um jato de sangue sobre seus olhos. E ele percebe que recuperou a visão. Arrependido, ele começa a implorar perdão ao Senhor pelo mal que causou.

Fiz a cena com tanto entusiasmo e alvoroço que fui convidado para representar outras peças no Recife.

 

 

 

 

 

 

30 novembro 2023

TRABALHO E DIVERTIMENTO

 TRABALHO E DIVERTIMENTO

 

PARTE 1

 

Esta história começa bem longe no tempo. Era o ano de 1948. Aos 18 anos de idade, eu completava o Curso Técnico de Mecânica de Máquinas ministrado pela Escola Técnica do Recife,  uma Escola da rede federal, criada pelo Presidente Nilo Peçanha. Ficava no Derby, bem na beira do romântico Rio Capibaribe.

Entrei de férias e comecei a pensar no que iria fazer na vida.

 

Poucos dias depois, o Diretor da Escola, Manoel Viana de Vasconcellos mandou-me chamar e disse:

Fui informado que o Senai vai criar um curso de Tecnologia Têxtil. Será no Rio de Janeiro, o primeiro no Brasil e concorrerão alunos de todos os Estados. Para Pernambuco foram reservados 4 alunos. Eu indiquei você.

O curso é gratuito e a Escola dispõe de um Internato para acomodar os alunos de fora. Serão pagas as passagens de ida e volta, bem como as férias, tanto as de Julho como as de fim de ano. Você terá que fazer um exame de seleção pois só irá um dos 4 indicados. Apresente-se no Colégio dos Jesuíta, na Boa Vista, e faça a sua inscrição. Fiz e passei. E viajei para o Rio de Janeiro.

 

Com o entusiasmo e a exaltação de quem vai  fazer sua primeira  viagem interplanetária, embarquei num DC3 da Real Transportes Aéreos.  Depois de 8 horas de viagem entre Recife e o Rio de Janeiro, o avião desabou sobre a pista do antigo Galeão.

Minhas emoções apenas começavam. A Escola começou a definir-se.  O carro que me trouxe do Aeroporto depositou-me num casarão da rua Bela, em São Cristóvão. Ali ficaríamos até que  fosse efetuado novo exame de seleção. Os reprovados seriam devolvidos aos seus Estados.

Fiz o exame. Tirei o primeiro lugar. Meu número de matrícula foi 1.

Foram aprovados 32 candidatos. Formava-se, assim, a primeira turma da

ETIQT.

A Escola iniciava as aulas apenas com sua estrutura de concreto, poucas paredes e muitos andaimes. Não havia portas nem janelas. O piso era laje bruta. O barulho das betoneiras interrompia o professor que ora fitava o chão ora levantava o olhar para os céus esperando sua vez de falar.

 

O regime era duro: quatro horas de aulas teóricas pela manhã, quatro horas de aulas práticas à tarde e, à noite, estudo dirigido, obrigatório, de duas horas. Ao meio dia, o Alfredo, um garçom com cara de mordomo inglês, metido em uma espécie de fraque e gravata borboleta, servia o almoço.

 

O Diretor da Escola era o professor Mario Souto Lyra, formado pelo Instituto Lowell, da Carolina do Norte. Da mesma Escola, vinha o professor de Tecelagem, Horst Gaensli que também ocupava uma Diretoria na Fábrica Bangu. Não há como deixar de mencionar outros professores da época e o faço sabendo que vou omitir nomes importantes pois valho-me da memória: O professor Oldegar Vieira, de Português, introdutor do Hai kai no Brasil que fundou o Caetés – Centro Acadêmico dos Estudantes; Deolindo Dominguez Vicente, na Fiação, com seu sotaque espanhol;  Ivo Piccoli, professor de Física, criador do “suprassumo do extrato do graveto seco”; Manir Japor, de Matemática, com sua muleta e perna engessada que duraram seis meses; Henrique Mariani no Desenho Têxtil e suas gigantescas e sufocantes folhas de papel milimetrado;  Emil Kwaiser, com sotaque austríaco, ensinava Mecânica Aplicada, era também professor de balística na Escola Técnica do Exército;  o professor Rocha, de Inglês, irmão de Carlito Rocha, o famoso treinador do Botafogo;  Dom Gerardo, frade do Mosteiro de São Bento, no Rio, na Cadeira de História das Artes, nos ensinou a apreciar Giotto e Caravaggio.

 

 

 

 

19 novembro 2023

ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE INDÚSTRIA QUÍMICA E TÊXTIL

 ESCOLA TEÉCNICA FEDERAL DE INDÚSTRIA QUÍMICA E TÊXTIL  -  ETIQT

 

Recebi, dias atrás, um convite dos meus colegas de escola, portanto técnicos têxteis como eu.     Com uma diferença, porém: entre a data da minha formatura – 1959 – até hoje, formaram-se 63 turmas de técnicos têxteis.

O convite me incentivava a participar do Primeiro Encontro de Técnicos Têxteis de ITAÚNA – MG. Seguiu-se um programa detalhado dos eventos  bem como os nomes dos que compunham a Comissão Organizadora.

O convite era assinado pelo Presidente da Comissão, colega Toninho Oliveira, o qual informava que a minha participação havia sido proposta pelo colega Ivo Jorge.

Não foi fácil conter a emoção que me envolveu  e como me sinto honrado e grato a todos. Estes amigos, nesta altura da minha vida, me renovam as forças para continuar trabalhando com as ferramentas que me restam. Posteriormente, veio a notícia de que seria gravada uma placa para perpetuar o evento e, dada a impossibilidade do meu deslocamento até Itaúna, a placa me seria entregue em Nova Friburgo, onde moro atualmente. Numa gentileza fora do comum, a Comissão Organizadora, capitaneada pelo colega Toninho Oliveira, e mais um grupo da ABTT, fiéis seguidores do colega Ivo Jorge, desembarcaram em Friburgo.

Escolheram um bucólico restaurante local, o Bistrô Primavera.   Aí, deu-se a grande festa, regada a detox, bebida criada pelo nosso Waumy em seu inesquecível “Imaculada Conceição”.

 

 

A Placa :

“Luigi  Spreafico

Nossa homenagem ao primeiro aluno matriculado na primeira turma do curso técnico têxtil na ETIQT , em reconhecimento aos brilhantes trabalhos  prestados a todo o ramo têxtil do Brasil.

Desde 1949, uma vida dedicada a uma paixão, “indústria têxtil”. Sonhos, lutas, realizações, uma carreira vitoriosa que deixa  um legado que orgulha  a todos nós, seus colegas técnicos têxteis e nossa querida escola.

ETIQT/1949 E CETIQT/1980

PRIMEIRO ENCONTRO DE TÉCNICOS TÊXTEIS EM ITAÚNA - MINAS GERAIS

Dias 25 e 26 de Agosto de 2023”

 

 

 

25 outubro 2023

ACONTECEU COMIGO

 ACONTECEU  -  SINCRONICIDADE

 

 

Mera coincidência : Eu não te disse que ia chover? Então, choveu ?

-- Sim, choveu. E eu me danei todo.

-- Está vendo ? Você não deu importância aos sinais.  Isso não é mera coincidência. É sincronicidade. Existe uma coisa muito ampla,   nisso que chamamos de firmamento, ou melhor, O Mundo Cósmico.

Tenho lido muito sobre sincronicidade. Os livros do DeepK Chopra explicam bem o fenômeno.

E um deles aconteceu comigo. Aqui cabe uma pequena introdução:

 

Aldenor era meu colega de trabalho quando eu estava preparando o Programa de Reaparelhamento da Indústria Têxtil, na SUDENE, no Recife.  Aldenor era Chefe do Departamento Jurídico do Banco do Nordeste, nosso coligado no Programa.

Figura original, Aldenor morava com três mulheres. Não tinha filhos. Uma era a própria esposa. A outra, irmã da esposa. A terceira, uma prima.

 Durante o trabalho, às vezes ele vinha ao Recife, outras eu ia a Fortaleza. Nestes casos, ele não permitia que eu ficasse em hotel. Ficava hospedado na casa dele e era sempre ele que me levava e trazia do Aeroporto. Numa dessa viagens ele diz à esposa:

-- Oh, Maria ! O Spreafico vai pro Aeroporto amanhã bem cedinho, Você levanta e, por favor prepara o café pra ele.

Interrompi imediatamente:

-- Não senhor. Não vou permitir que a Maria faça isso.  Ele insistiu, e insistiu tanto, que deu-me na telha fazer uma brincadeira:

-- Olha Aldenor: você não pode fazer isso. Sabe por que ? Porque  no caminho vai cair uma chuva, você vai furar o pneu do carro e ainda pode ser que, na volta, derrape na estrada lamacenta. Todos riram, a Maria levantou cedo, fez o café e partimos para o Aeroporto. Chegamos lá, o motorista encostou o carro próximo da calçada. Perto da entrada coloquei as malas no chão e ficamos nos despedindo.

Nesse momento, percebi que alguns pingos de água começaram a cair. Adverti: Estão vendo ? A chuva já começou. Agora só falta furar o pneu.

 

Ppffffffff . . . Mal pude acreditar. Olhei para o carro e vi pneu direito traseiro achatando-se no chão. Me ressoam até hoje as palavras  do motorista atônito :

 

Que boca  !!!

 

18 setembro 2023

O PRESIDENTE EVENTUAL

 Republicado em 19 Novembro 2017

 

O  PRESIDENTE  EVENTUAL

 

Estou transcrevendo o texto original, que havia abandonado por medo estar ofendendo nossos juízes togados. Muitas vezes, quando tentamos fazer humor acabamos por ser grosseiros e, pior, cometendo ofensas a quem não as merece. Principalmente quando tratamos de forma genérica um grupo ou uma instituição,  como é o caso presente.

Mas, depois de ler o que pensam vários dos meus “colegas cronistas” da imprensa escrita - desculpem a minha presunção - tomei coragem e mandei ver. Quem sabe assim eu consiga   receber, pelo menos, um mísero comentário neste humilde e abandonado blog. Ou, glória suprema, a visita do Japonês da Federal.

 

Sou totalmente ignorante em matéria de política. Bem que tentei, no meu tempo de estudante, meter-me nas discussões, participar de comícios, opinar sobre isto e aquilo. Cheguei a ler Marx e Engels. Nada deu certo. Não demorei a entender que, com a cara e o nome que eu carregava, ninguém me levava a sério. Então, limitei-me a cuidar das minhas tapiocas.

Isso não quer dizer que não me interessasse pelos destinos do meu país e do seu comandante maior: o Presidente. Houve uma época em que eu lia três jornais todos os dias.: O “Correio da Manhã”, “O Jornal” e o “Jornal do Brasil”.

 

Ora, se deu que, em 1954, o Presidente se suicidou. Comoção geral. O povo foi às ruas, não para quebrar coisas como é comum em nossos dias, mas para prantear o seu Presidente. O lugar foi ocupado pelo seu herdeiro natural mas depois, seguiu-se uma longa discussão sobre se isso era legítimo ou não. Discussão da qual eu nada entendi.

Sucederam-se vários presidentes, sempre com muita discussão e muita briga. Entre os últimos, creio que ainda estávamos no século passado, teve um que se mandou sem dizer água vai. Alegou que havia forças ocultas que não o deixavam trabalhar. No lugar dele entrou seu herdeiro, que deu muito trabalho porque muita gente não gostava dele. Até houve um plebiscito para saber se o povo queria que ele ficasse como pau mandado, mas o povo disse que não.

 

Ele era muito querido pela população e fez um comício que ficou na História, o famoso comício da Central. Eu assisti a esse comício, não porque me interessasse por política, obviamente, mas porque eu desembarcara no aeroporto do Galeão, vindo de Montes Claros, e o motorista do taxi me comunicou que o trânsito estava bloqueado perto da Central do Brasil, por causa do comício. Já que eu não podia chegar ao hotel, pedi ao motorista que me deixasse perto do comício. E lá fiquei eu, em pé, bem próximo ao palanque, ouvindo os discursos. Foram muitos discursos. Quando tudo acabou eu, leigo que sou, disse pra mim mesmo: “Isso não vai acabar bem”.

 

 Porque de repente chegou um pessoal saído dos quarteis, metralhadora na mão, dizendo : “agora quem escolhe presidente é a gente”. E assim foi por muitos anos. Quando eles se cansaram de escolher presidentes, entregaram o trono a um civil dizendo:  “daqui pra frente é com vocês”.

Aí, não sei bem como, foi escolhido um novo presidente. Então, aconteceu um novo infortúnio:  Antes mesmo de tomar posse esse presidente adoeceu e foi levado para um hospital. Foi empossado lá mesmo e, no dia seguinte, veio a falecer.

Foi substituído pelo seu eventual, um nordestino tranquilo, de bigode imponente, o qual, findo o mandato, passou o cargo para outro nordestino, eleito pelo povo. Este não era nada tranquilo, ao contrário, era brabo e saiu brigando com todo o mundo. Além de brabo, era meio tan-tan  pois saiu catando o dinheiro de todo o mundo com a promessa de que iria devolver tudo depois, e com lucro. Não sei se ele devolveu mesmo porque, no meu banco, eu só tinha boletos de contas  que eram pagas com o suor do meu rosto.

Disseram também que entre as patifarias que praticou, este jovem presidente havia recebido um regalo considerado muito suspeito: Uma Fiat Elba,  zero quilômetro.  Um vexame!

Então resolveram tirá-lo, e eu nem sei bem como isso foi feito, porque, nessa altura, eu já andava tão cansado que parei de ler jornais e fui cuidar do meu reumatismo.

 

E aí veio um período tranquilo em que os presidentes, todos eleitos pelo povo, passaram a trabalhar com grande empenho, embora nem todos agradassem a todo mundo, fosse quem fosse o presidente. Normal, porque isso é próprio do sistema democrático. Pelo menos foi isso que pensei porque eu, leigo total em política, andava cuidando apenas do meu laburo. Pois não é que, de novo, resolveram tirar o Presidente da vez? Acharam que este Presidente, mais exatamente, uma Presidenta, estava trabalhando mal e resolveram mandá-la embora. Isto, para muitos, foi considerado um golpe. O fato é que no seu lugar entrou o seu substituto eventual, tudo dentro da lei, segundo diziam os jornais, o que, obviamente, não correspondeu à opinião daqueles que o consideraram   golpista.  Pois agora, golpista ou não, estão dizendo que este é igualzinho ou pior do que anterior e, por isto, vão mandá-lo embora também. Até aí eu entendo. Mas ficou-me uma dúvida.

 

 Já expliquei que, em matéria de política, sou completamente leigo mas, que diabos, leigo também tem alma! Pois agora vou dar minha opinião de leigo e pouco me importa se me internarem num manicômio. Porque achei  esquisita  a  maneira como tudo isto está sendo feito.

Acontece que, fosse lá por que motivo fosse, atribuíram, esta tarefa a um dos Poderes da República: o Poder Judiciário. O Judiciário é formado por vários Tribunais, cada um identificado com uma sigla própria. Não sei se existe diferença hierárquica entre eles, tipo, um pai e muitos filhos, sendo o Tribunal filho um complemento do Tribunal pai, ao qual deve dar satisfação das maldades  que pratica, o que faria deste o Judiciário de verdade, a menos que o filho, quando menor, tenha sido emancipado pelo pai, não precisando, assim,  dar satisfações ao pai. Não importa, até aqui tudo bem, sabendo que o Tribunal filho que está no jogo é aquele que cuida das eleições.  

 

Tudo bem, mas nem tanto. Porque agora acabo de descobrir que os Juízes dos Tribunais, tanto o pai como o filho, são nomeados pelo Presidente da República, e a ele, é de se esperar, devem fidelidade. Podemos dizer que um juiz é um Juiz e que ele está acima dos interesses terrenos, portanto é imparcial. Ótimo. É assim que deve ser.

 

Mas aqui entra uma grande confusão. Alguns juízes pertencem simultaneamente a um Tribunal Filho e a um Tribunal Pai. Outros, só ao Pai. Tem mais: alguns juízes foram nomeados pelo presidente escorraçado, outros pelo presidente que chegou ao cargo por herança. Será difícil conseguir coerência nesse caleidoscópio de interesses. Prova disso são as suas reuniões longas e patéticas, enfeitadas por salamaleques e enriquecidas por elogios recíprocos, datas vênias, ipsis verbis, causa finita, ad perpetuam rei memoriam ... isto para não mencionar os floreios de linguagem jurídica, repetidos à exaustão para que se tornem válidos, nem os arroubos de histeria dignos de uma prima donna contrariada, para dominar o palco e comover os colegas e o público. Afinal os Juízes, ainda que cobertos pelo manto sagrado da toga, são seres humanos.

 

Alguma coisa está errada. No centro dessa discussão está a definição de quem é o autêntico presidente: se aquele que foi eleito pelo povo ou aquele que ocupa o posto por herança. Ou nenhum dos dois. E quem vai resolver isso são os Juízes indicados pelos Presidentes envolvidos. Ora, esses juízes não foram escolhidos pelo povo como acontece com os presidentes. Decididamente, alguma coisa está errada. É preciso inverter essa coisa: o povo é que deve escolher os juízes. E os juízes indicarão o presidente.

 

Com uma condição: os juízes removeriam aquele medonho manto fúnebre seriam reincorporados à espécie humana.    ABSIT  INJURIA  VERBIS.

 

Nota bene: Transcrevo o parágrafo introdutório do artigo publicado pelo mestre Nelson Mota no O Globo de 16 de Junho de 2017, na página dos editoriais:

“ Há juízes bons e maus, preparados e incompetentes, burros e inteligentes, honestos e desonestos, embora todos, ou quase, se considerem num patamar  acima do cidadão comum, pelo poder de decidir a vida e a morte de quem transgride  a lei.”

 

 

 

 

 

15 setembro 2023

EM SILÊNCIO

 EM SILÊNCIO

Eu tive, na minha vida, duas oportunidades para viver o silêncio absoluto, o “voto de silêncio”. Era jovem, andava pelos 14 anos, morava no Recife e andava muito apegado à Igreja Católica.  Passada a praia de Boa Viagem estendia-se um areal denominado Praia da Piedade. Ali havia um Convento de Frades, creio que Dominicanos, bem ao longo da beira mar.

Durante a Semana Santa, o Convento oferecia um retiro espiritual.

Entrávamos na segunda feira e saíamos depois do Domingo de Páscoa.  Aderi imediatamente.

*A outra experiencia foi a permanência por um ano em um sítio no município de Amparo, em Nova Friburgo sem luz, sem jornal, sem telefone sem vizinhos.

O local era fascinante. Além das práticas religiosas podíamos tomar banho na praia sempre que houvesse um intervalo e sob vigilância de um sacerdote. Havia, porém, uma regra pétrea :  O silêncio. Ninguém podia falar. Nem mesmo os frades, entre si, exceto quando proferiam o sermão do dia ou as orações de rotina. A partir da terça feira, iniciava-se o jejum. A comida era reduzida, dia a dia, até transformar-se, na Sexta Feira Santa, em meia batatinha cozida. Na água. E sem sal.

O que aprendi nesse retiro vale mais do que anos de aprendizado acadêmico. Mais do que palestras de psiquiatras e psicólogos. E saibam que desde esta experiencia até hoje passaram-se 81 anos.

Fuja da verborragia. Não massacre seus amigos com bolodórios e arengas enfadonhas. Pense em silencio. E viva tranquilo.

22 agosto 2023

CHEGOU A NOVA INTELIGÊNCIA

 Gigantesca, avassaladora, a Inteligência Artificial veio mudar o nosso modo de pensar, o nosso comportamento, a nossa vida diária. Prepare-se. Amanhã você não tomará mais banho como ontem. Não posso dizer que será uma “lavagem a seco” como se fazia antigamente com os nossos ternos de casimira, mas ela te deixará esterilizado por um período que será indicado no teu cangote por uma etiqueta também solúvel. Milhões de coisas serão jogadas no espaço. Milhões de calculadoras, ábacos e baralhos de Tarô, serão montados e esparramados entre as galáxias. Poemas, romances, crônicas, artigos, teses de doutorado piadas e tudo o que for fotografia no mundo será disponibilizado e posto no ar, gratuitamente. Você aí, que me ouve, esqueça seus incautos leitores e vá criar galinhas. Rápido, antes que a IA chegue.  

 

Eu disse que era tudo grátis não foi? Não estou muito certo disso.

Aliás, não procurei saber. Duvido que nessa parafernália toda não surja um sininho qualquer oferecendo um conjunto de frigideiras, 6 xícaras, e 100 quilos de massa puba, para fazer tapiocas o resto da vida, ainda nesta encarnação. Pagamento: no Jardim do Além.  

 

Epa! A luz surgiu.  Finalmente chegam notícias.  A IA está mais viva do que nunca e mostrando resultados práticos, arrastando consigo milhões de Reais. E de Dólares. São empresas de carne e osso e trabalham com dados em nuvem e serviços digitais como, por exemplo, reduzir fraudes e sinistros. Também oferecem apoio a empresas financeiras para “joint ventures”, financiamento de ativo fixo, o escambau. Ainda bem. Agora já posso dormir sossegado.                                                                                    

26 junho 2023

A LONGEVIDADE VISTA DE PERTO

 Quando tratei dos velhinhos, entre os quais me incluo, eu já estava mais “pra lá de Bagda”. Não que tivesse bebido, pois que para isso não me faltou oportunidade, mesmo depois que perdi o emprego. Trabalho é o que não me falta, mas vou levando com moderação. Vai que me se estica um nervo e . . . catapum !  Além da queda, coice.

 

Pois, refletindo um pouco, percebi que uma olhadela macro ao tema, me desvendaria comportamentos e atitudes que esticariam a própria longevidade.

Começando com as “zonas azuis” e seu gene privilegiado às quais me referi alhures e o infindável número de estudos, sempre oriundos de Universidades Norte Americanas, que tratam de tipos de vida que levamos, regime nutricional, atividade física, conexão mente-corpo, entre outros.

 

No que diz respeito ao regime alimentar sou afortunado pois desde cedo embarquei na Cozinha Mediterrânea e seus moderados copos de vinho, depois estendidos para o Chile e gradativamente, na medida em que foram melhorando de qualidade, aos vinhos nacionais, notadamente os do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.

 

Quanto à minha atividade física, melhor esquecer. Estou pregado ao solo pelo peso das pernas.  Certamente fui castigado por algum malfeito que cometi. Motivos não faltaram. Mesmo assim, sou irremediavelmente feliz.

Imaginem se eu estivesse morando na Ucrânia!

10 junho 2023

A MINHA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

 Estão me perguntando como anda a minha inteligência artificial.

Respondo que não tenho inteligência artificial alguma. Quem me  dera! Eu mal consigo cuidar da inteligência natural de que disponho, trôpega e falaz, quanto mais fazer incursões num mundo quimérico e fantástico como o da inteligência artificial.

Mal ou bem, andei escarafunchando o que se dizia naqueles mundos e descobri que as tripas da inteligência artificial haviam sido afetadas quando a Rússia lançou ao espaço o Sputnik. Foi uma comoção a nível mundial.

O Sputnik foi o primeiro satélite artificial lançado no espaço, em 4 de outubro de 1957. A União Soviética iniciou, assim, a era espacial em conflito com os Estados Unidos, tanto em termos tecnológicos quanto políticos.  

Esse evento criou pânico no país.  Uma pergunta ecoava na boca de todos os americanos: “Como foi que permitimos que a Rússia passasse à nossa frente nessa competição tecnológica?”

Não sei qual foi a resposta dada pelos cidadãos norte-americanos. Mas, modestamente, posso responder. Quando isso aconteceu eu costumava ler vários jornais. E li a notícia de que um Senador Americano havia pronunciado no Congresso um discurso explicando:

“Eles passaram à nossa frente porque costumam ensinar, nas escolas, a jogar xadrez. Qualquer criança na Rússia joga xadrez.

E eu me lembrei do velho Kasparov e seu Gambito de Dama.

 

(Ver crônica “Os chineses chegaram” – Pag. 190 do livro Memórias).

Os chineses dispunham de um jogo aparentemente mais simples do que o xadrez, porém muito mais versátil e que exigia maior esforço mental na sua execução. Era o GO, um tabuleiro quadriculado com 11x11 linhas e um monte de pedrinhas brancas e pretas. Eu joguei muito xadrez na minha vida, mas quando tentei o GO, logo desisti. Faltou-me paciência e competência. E logo dei a desculpa que me ocorreu na hora: “Isso é coisa de chinês”.

E aí entrou o Google que proporcionou a criação do AlphaGO, no qual você podia jogar GO contra o computador. Vários campeões se apresentaram. O AlphaGO sempre venceu. Essa disputa aconteceu por volta de 2014.

Hoje as empresas estão atentas ao avanço tecnológico proporcionado pela inteligência artificial, todas elas preparadas para  as leis e normas  que deverão acatar. Os grupos são muitos mas convem destacar os de tecnologia e financeiras.

Aí está. Foi tudo o que consegui produzir com a ajuda da minha Enciclopédia Barsa e o faro com que tempero minhas tapiocas. Contudo, ainda tenho a esperança de um dia conseguir fazer a barba com o meu celular, aprender a não trocar frases como “Carolina de Sá Leitão” por “caçarolinha de assar leitão” .E que meus incautos leitores me perdoem por abordar um assunto tão importante, com a leveza de um ingênuo. Espero vocês todos mais adiante, quando a Inteligência Artificial acionar a chave da Suma Sapiência e disser :

“Agora tá tudo certo. Tudo junto e misturado”   

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17 maio 2023

A LONGEVDADE VISTA DE LONGE

 Muito se tem falado sobre a longevidade. Psiquiatras, psicólogos, sociólogos e até engenheirólogos têm discutido o assunto, propondo métodos e processos para alcançá-la.

Sugerem mudança de hábitos no comportamento, na alimentação, atividade física, meditação, contacto com a natureza, relacionamento humano, manter um trabalho regular e  outras sugestões interessantes. Em uma palavra : Vida saudável !

 Por outro lado, pesquisadores identificaram que existem, na terra, zonas que possuem um “dna” diferente, onde seus habitantes mostram idades avançadas. Um exemplo prático seria a  Sardenha, na Itália. Existe também exemplos no Japão, na China e na Índia. Os pesquisadores deram a esses lugares o nome “zonas azuis”

Constatei que a parte central da Lombardia - Norte da Itália,   exatamente no Município de Sulzano, onde se encontra o belíssimo Lago de Iseo - possui também o gene da longevidade. Ali, quando eu ia visitar meus parentes, eu costumava assistir a Missa na Paróquia do bairro. O enorme sino da torre dobrava um toque fúnebre para saudar os falecidos. Ao lado, um enorme cartaz exibia a foto dos defuntos com o ano do falecimento. Nunca encontrei ninguém abaixo dos 90 anos.

Muito bem. Falei muito da longevidade.

Só que agora não sei o que fazer com ela.

Arrasto meu corpo através dos tempos. Sou uma sombra de mim mesmo. Meu corpo vaga pela noite como um fantasma à procura de almas para assustar. Quem sou ?  Onde estou ?

Vou pedir ajuda ao Poeta. *


“De repente uma pena apareceu no espaço 

Riscando os ares rápida e matreira

E apontando meu peito zombeteira

Disparou letras com desembaraço

A pena desenhava no ar letras malfeitas

Que eu arrumava sem zelo, em linhas tortas

Para que fossem consideradas letras mortas

E assim passou-se o tempo.

Minha alma levitava em desatino

Pois negava-se a cumprir o seu destino

Mergulhar no Espaço Sideral que eterno dura

Onde pudesse iniciar vida mais pura”

Assim foi e assim será. Que minha alma continue a flutuar no ar disperso. Que minha Longevidade seja vivida em toda a sua longitude. Que eu possa usufruir da minha Mansão, com seus 150 metros quadrados, juntamente com minha esposa, filhos, netos e demais familiares. Que meus amigos continuem a me visitar e fazer companhia, como sempre fizeram. E que eu possa gritar, quando acordar, pela manhã, “Sou um homem feliz.”

“DOMINE NON SUN DIGNUS”

 

* Página 146 do Livro.