19 dezembro 2012

A sopa da Tatiany




Novo Cruzeiro é uma  cidadezinha escondida nos confins das  Minas Gerais, quase fronteira com a  Bahia,  de onde recebe influência na sua linguagem e na sua bravura para enfrentar as vicissitudes do clima. Deixou de ser incluída no Polígono das secas por uma asa de mutuca. Nem por isso deixa-se de perceber a atmosfera  árida do Nordeste que se reflete nos tomates raquíticos, na abundancia do maxixe e na escassez da banana.

O caminhar distraído das gentes na rua, a simplicidade de sua arquitetura nas casas de teto baixo, um cão que fareja as bancas na feira, completam o cenário da cidade típica nordestina que espera o desenvolvimento econômico prometido pelos nossos planejadores. Enquanto isso não vem, Novo Cruzeiro produz cultura. E amor.
Nesse pequeno mundo Shirley Pereira dirige, com grande dinamismo, a Escola Estadual Inácio Murta.  Ali se ensina. Ali se produz poesia e música.  Se canta, se dança e se faz teatro. E ali se divide o pão.

Foi num cenário desses que, em noite memorável,  Tatiany  Araújo, um fruto da terra, apresentou sua criação: “O Jovem da Rua 4”, um hino à vida em 77 páginas. Com a ajuda de Líbia Batista, uma jovem psicóloga, Tatiany expôs as vísceras de Dã,  seu principal personagem. E a fila dos autógrafos, que não terminava nunca, penetrou pela noite entre risos e beijos.

Pouco depois Tatiany anunciou que faria uma sopa. Uma sopa de banana verde. Bem verde. Muito sisuda, preparou os utensílios. Preparou a banana. E preparou os temperos. Levou a panela a cozinhar em fogo brando. Só então abriu um sorriso que durou até a sopa ficar pronta.

Eu não vou lhe ensinar aqui como se faz a sopa de banana verde. Se você quiser aprender terá que ir a Novo Cruzeiro e conhecer  Tatiany, a bruxa das metáforas.

03 dezembro 2012

Tatiany e o Jovem da Rua 4




Encontrei um bilhete do Severino enfiado por debaixo da porta. Queria falar-me. Era urgente.
Pressenti, pela letra trêmula, que se tratava de coisa importante. Para estas ocasiões sempre guardo um vinho especial e então sugeri  que viesse à minha casa para comermos umas tapiocas regadas a Tannat  Viejo, do Stagnari, ano 2000, numa celebração com os dois extremos da cultura gastronômica.

Antes mesmo de sentar-se Severino jogou sobre a mesa um pequeno livro. Tinha a capa  preta e nela se via a silhueta de um homem em pé, de costas, que parecia olhar o infinito.

-- É sobre este livro? – perguntei-lhe.
-- É. Mas este não é um livro qualquer.
-- Quem é o autor?
--  Autora. Tatiany Araujo. É do interior, como eu. Mas não do Nordeste,    é de Minas. Vale do Jequitinhonha. De uma cidade pequena como Cabaceiras, na Paraíba , onde planto minha macaxeira.

Achei o título estranho e, fixando a  atenção na  expressão do seu rosto, perguntei ao Severino:

--  Por que  “O Jovem da Rua 4” ?
-- Porque não diz nada. É um enigma. Porque jovem é um jovem qualquer e rua 4 é uma rua qualquer. “Apenas um poste no fim do beco”, como ela diz.  Mas espere até ver o nome do personagem.
-- Como é, “O Homem de Preto” ? – brinquei.
-- Dã.
-- O que? Só isso?
-- “Um certo jovem de nome Dã”.
-- E o que a autora quer dizer com isso?
-- Nada. Simplesmente nada. Dã é a simplicidade ao máximo. É a essência, a síntese. É o homem sem atributos. Com isto a autora consegue criar um suspense digno do melhor escritor de romances policiais antes mesmo da leitura ser iniciada. Trouxe este exemplar do livro pra você. Você  vai conhecer um obra fascinante concentrada em poucas páginas. O livro da Tatiany é denso. Ela não desperdiça palavras. Seu estilo é sóbrio e elegante. É rico em metáforas, sempre bem construídas. A descrição que ela faz do personagem, logo no começo do livro, é perfeita. É precisa e coerente. Não há redundâncias. Olha a beleza deste trecho, com o qual ela encerra o capítulo:

“Mal percebia que, nesse deserto e em meio aos homens tão vazios, poderia encontrar num silêncio ínfimo ... uma fagulha que, mesmo tenra, brilhasse ardente pelo fogo agonizante produzido por sua própria chama.”

A elegância do estilo é, sem dúvida, um aspecto a ser destacado na obra de Tatiany Araujo. Não existem frases óbvias, clichês ou lugares comuns. Sua linguagem poética seduz o leitor que crê estar lendo prosa.  Veja isto:

“O corpo com menos de sessenta quilos se levanta ainda embriagado pelo êxtase da leitura, e se coloca de pé. Os olhos fundos voluntariamente se submetem a outros ângulos. Observa o nada. Senta na cama. Coloca os pés pálidos e secos dentro dos chinelos gastos pelos dias. Novamente em pé, vai até a cozinha, pega uma faca e volta. O lápis havia se desgastado. Com força desnecessária descama-lhe a ponta, preparando-o para mais um dia.”

Entusiasmado, Severino continuava a ler trechos e falava sem parar. Eu, comovido,  ouvia, os olhos pregados no livro.

-- Fascinante, Severino, não encontro outra palavra. A Tatiany viaja muito?
-- Não sei, não a conheço. Sei que mora nessa cidadezinha, que também não conheço. Dizem que é muito tímida. Não deveria ser. Até agora escreveu poesias, este é o seu primeiro livro em prosa. A princípio achei que fosse apenas um romance. Não é. Nele você encontra  verdadeiros ensaios: sobre o comportamento humano, a formação da personalidade, a volúpia da sociedade consumista, a religiosidade da alma. Tem tudo, e com exuberante beleza. Quando trata da libido e da sensualidade ela o faz com muito calor mas com educação e respeito. Ela descreve a explosão do desejo entre dois corpos com tanta elegância e finura que parece estar recitando uma oração.

Severino continuava a ler. Eu fechei os olhos. Sua voz foi se distanciando até desaparecer. Eu vi a mulher de pele branca se contemplando no espelho... os livros esparramados ... desenhos incompletos...  a janela aberta e o chão lá embaixo...
Uma longa viagem num espaço tão curto.


13 novembro 2012

O sabor oculto das coisas


1.    O sabor oculto do vinho
     2.    O sabor oculto da literatura

A cozinha molecular tem-nos revelado o que acontece dentro das panelas quando cozinhamos o nosso angu. O que se espera disso é  que, sabendo o que ocorre com os alimentos sob a ação do calor, possamos aprimorar o sabor, melhorar a textura, despertar os aromas e iluminar a imagem visual daquilo que comemos. Este resultado tem sido logrado, sem dúvida, se  julgarmos pelo sucesso dos chefs nucleares em cujos restaurantes  é preciso esperar meses para reservar uma mesa.
Os pesquisadores da cozinha molecular, em geral pós graduados em biologia ou química, tem dito aos cozinheiros que “não entendem  como estes conseguem produzir coisas gostosas sem conhecer as leis que regem a transformação dos alimentos”.
(Isto me faz lembrar uma frase que li há meio século, escrita numa placa exposta aos engenheiros de uma fábrica de aviões: “De acordo com as leis da aerodinâmica um besouro não pode voar. Mas o besouro voa porque não conhece as leis da aerodinâmica.)

Pelo menos isto é o que deduzo da leitura do magnífico livro de Hervè This, físico-químico do Laboratório de Química das Interações Moleculares do “College de France”, em Paris, sobre gastronomia molecular. O livro, Casseroles&reprouvettes,  já tem dez anos de publicado e nunca foi tão útil como agora.

Na edição italiana do livro, “Pentole & provette”, a tradutora  Alba Pezone explica que “sendo a cozinha uma espécie de química e física aplicadas, ensinar aos cozinheiros um pouco de física e química pode ajudá-los a compreender melhor o que fazem, a cozinhar melhor a cada dia e incentivá-los a inventar novos pratos”. Animado por esta explicação corri imediatamente para o penúltimo capitulo do livro: “O sabor oculto do vinho” onde, imaginei, poderia desvendar os mistérios da construção desse milagre que é a conjunção homem / natureza: o vinho.

Mas, antes de chegar lá, fiz outra descoberta, igualmente fascinante:  O sabor oculto da literatura. Desvendar os mistérios de um trecho literário, seja ele um ensaio austero ou apenas uma lorota bem contada pode ser, também, uma experiência sensorial gratificante.
O livro de This é perfeito pois nos proporciona ambas as coisas, alternando explanações teóricas complexas com ensinamentos de ordem prática para o dia a dia. De início ele adverte: “ A cozinha deve corrigir sua linguagem se quiser realmente progredir”.
E ao corrigirmos a linguagem chegaremos a verdadeiras peças literárias, como aquela que nos ensina a preparar um autêntico caldo de carne. Ao longo de duas extensas páginas ele explica o que  acontece na panela  quando preparamos o caldo. Analisa, à exaustão, o comportamento das partículas sólidas na corrente de convecção, as quais poluem o caldo, que deveria apresentar-se transparente. Mostra que é possível provocar a precipitação dessas partículas, o que proporcionaria a sua decantação. Na sua pesquisa, observando o movimento das partículas,  compara o tamanho, o peso e a velocidade com que se deslocam e conclui que, embora as partículas maiores permaneçam no fundo da panela as menores continuam navegando pelo líquido poluindo, assim, o caldo “como o cordeiro, poluidor inocente, poluía a água do riacho onde o lobo  bebia, na fábula do caro La Fontaine”.

Passei, avidamente, para as páginas seguintes. Elas explicam como se faz para cozinhar o ovo perfeito, aquele que chamamos vulgarmente de “ovo duro”.  Nele a gema deve estar centralizada, isto é, a clara deve circundar com uniformidade a gema.
Depois de ressaltar a importância da centralização da gema no ovo cozido o livro descreve as experiências feitas, todas embasadas nas leis da física. Nas palavras do autor: “Então, como obter uma gema bem centralizada? A solução é deduzida das experiências realizadas: é preciso evitar que, no interior da casca, a gema se desloque. Como? Eliminando a posição vertical do ovo que é a causa da flutuação da gema. Na prática, manipulando o ovo de tal forma que a gema permaneça no centro. Vamos cozinhar o ovo na água fervendo, fazendo-o rodar na panela. Depois de cerca dez minutos de cozimento podemos descascá-lo. A gema estará no centro.” 
A pesquisa mostra ainda que a consistência ideal do ovo cozido é obtida quando se completa a coagulação da gema e da clara. Que a temperatura de coagulação da gema é de 68 graus centígrados  enquanto que a da clara é de 62. Portanto, no cozimento não se deveria superar essas temperaturas, ainda que se possa usar uma temperatura uniforme de 64 graus.
 “Então, por que não usar os recursos técnicos que temos à disposição? A coagulação completa, a essa temperatura, levaria aproximadamente uma hora, o que poderia ser facilmente controlado por um relógio. Um termostato nos permitiria cozinhar o ovo a uma temperatura mais próxima da temperatura de coagulação. Certamente o cozimento levaria muito mais tempo mas não seria esse o preço que teríamos que pagar para ter um ovo duro perfeito?”, conclui  This.

E os nhoques? As receitas dizem que, durante o cozimento, os que voltam à superfície estão cozidos.  “Mas esta não é uma indicação segura” – explica o livro. “O cozimento do nhoque depende da sua temperatura interna e esta varia com o tamanho do mesmo. E, mais grave, a temperatura interna dos nhoques maiores é, muitas vezes,  inferior à  temperatura de coesão do amido da farinha de trigo. (quando as moléculas da agua se combinam com as moléculas do amido) Portanto seria necessário levar o cozimento além do ponto de flutuação”.
Para resolver isto a proposta de This é simples: “Caso se deseje uma precisão digna dos grandes cozinheiros deve-se elaborar uma tabela que indique o tempo de cozimento em função do tamanho dos nhoques.”

E o vinho? Deixei “O sabor oculto do vinho” para o final por ser esta a parte mais nobre de nossas  lucubrações. Nunca duvidei de sommeliers que conseguem reconhecer os aromas e sabores mais diversos nos vinhos que provam, identificando origem, castas e safras. Há pessoas que nascem com dons que transcendem à nossa compreensão. Assisti a uma partida de xadrez realizada na Plaza de Armas, em  Santiago do Chile. Era uma simultânea com 42 jogadores, distribuídos em volta da praça. O mestre observava o tabuleiro, fazia seu lance e prosseguia, praticamente à velocidade de quem caminha. Muitas vezes olhava o tabuleiro e passava ao seguinte sem mover suas peças pois percebia que o contendor ainda não havia feito o seu lance. A comparação é tosca, bem sei mas não pude deixar de relacionar ambas  as experiências. Em que pese a diferença dos sentidos estamos diante de atributos de igual grandeza.

Em “O sabor oculto do vinho” , Hervè This explica, em linguagem técnica e bem elaborada, como os compostos voláteis aromáticos contribuem para a percepção olfativa. Com esta linguagem, certamente acessível a um enólog, descreve as pesquisas que estão sendo feitas para desencantar os aromas escondidos no vinho:
“A última etapa da hidrólise dos glucosídeos devida aos glucopiranosídeos é aquela que limita a liberação dos torpenois da uva e do vinho porque as enzimas naturais agem muito pouco sobre os monoglucosídeos que têm, como parte não glucosídea ( chamada aglicone) alguns álcoois terciários ( linalol e terpineol). O betaglucosídeo das leveduras enológicas revela, no entanto, uma fraca atividade para o linalil beta-glucosídeo, um dos principais glucosídeos da uva. Além do mais, se  a uva for dotada de ...  ... ... ”
Certamente haverá imperfeições na tradução do trecho acima. Mas, francamente, você acha que vai fazer alguma diferença?

Por fim será interessante ressaltar a discussão que trata  da capacidade dos degustadores e a possibilidade de criar meios artificiais de detecção de aromas. Em “O teleolfato”, último capítulo do livro, This pergunta: “Quando alcançaremos esta nova forma de comunicação? Se fomos capazes de reproduzir imagens e sons, se conseguimos registrar as sensações tácteis, estamos em falta com o sabor e o olfato, para tristeza dos gourmets.”  Em seguida explica o avanço das pesquisas que estão em curso para a criação de um nariz artificial: Um aparelho analisador criado no laboratório INRA, de Theix, França, foi capaz de identificar, pelo cheiro, a origem de uma ostra proveniente da costa francesa.

A gastronomia é fascinante, não é? A literatura também. E se você chegou até aqui, incauto leitor, saiba que conta com a minha compaixão. Agora relaxe, encha o copo e ... Saúde!





29 outubro 2012

Os grilos de cada um


Sobre um galho seco
Um passarinho canta
Que a vida se foi

Perdoem-me o haicai improvisado. Não pude evitá-lo pois ele representa o patético esforço do homem para restaurar a natureza que ele mesmo destruiu. Eu andava por uma estreita ruela no centro de Tókio acachapada  pelos enormes blocos de concreto e vidro que a circundavam. Caminhava  devagar, contrastando com os demais transeuntes. Era uma tarde ensolarada, embora o sol apenas se presumisse pela intensidade da luz. O céu visível era apenas uma nesga.
Em certo momento pareceu-me ouvir o canto de um pássaro. Ri do meu delírio e continuei a caminhada. O canto voltou, ligeiramente mais alto. Estiquei o pescoço à procura de um lugar para sentar-me. Desemboquei numa espécie de praça minúscula que mais parecia o fundo de um prédio.  Do chão de cimento, entre dois bancos de ferro, levantava-se o tronco seco de uma pequena árvore, o qual se dividia em três ou quatro ramos completamente pelados. Não havia uma só folha. Sobre o galho mais alto, um passarinho cantava.
Não demorei a perceber as duas caixinhas de som escamoteadas no cruzamento dos ramos e o tosco balançar de cabeça do pobre passarinho empalhado.

Os japoneses são um povo admirável e a eles devo a minha capacidade de introspecção e o pouco de equilíbrio emocional que ainda me resta. Com eles aprendi a tomar banho, a ouvir quando os outros falam e a fazer as coisas em espaços impossíveis. Com eles aprendi também a comer o que está disponível e provei coisas estranhas,  desde alimentos fermentados com odores inicialmente insuportáveis até bichinhos indecifráveis, fritos ou não, cujo aspecto ia do besouro ao louva-deus.

Depois de algumas idas e vindas de Tókio e Osaka, mas ainda um estreante na cultura japonesa, coube-me receber dois técnicos que viriam ao Rio para a discussão de um projeto. Ao completar duas semanas de trabalho exaustivo, na véspera de sua partida,  convidei-os para um jantar de despedida. Levei-os ao Fiorentina, que naquela época estava no Leme. O jantar foi longo e alegre, havia uma lua bonita, e decidimos caminhar um pouco pela beira da praia. Em certo momento, um deles parou e ficou contemplando longamente o mar. Pareceu-me vislumbrar, em seu semblante, uma certa nostalgia pela partida. Ele desceu até a areia, tirou um lenço do bolso e estendeu-o, aberto, no chão. Apanhou dois punhados de areia, colocou-os delicadamente no centro, amarrou as quatro pontas do lenço e voltou sem dizer uma palavra. Comovido com aquele gesto, eu não me contive:
--  Que bonito, você está levando um pouco da areia de Copacabana como lembrança do Brasil!
-- Não, – disse ele – é para a  minha criação de grilos.
-- Ah! Você cria grilos para comer, não é?
-- Não, não. É para ouvi-los cantar!

Meu impulso foi sair correndo e mergulhar no oceano. Para sempre.




04 outubro 2012

Uma jornada insólita


No dia 16 de Setembro, dois anos atrás, escrevi  “Madrugada insólita”, uma patética descrição das batalhas internas que travamos a cada dia na esperança de contornar os tortuosos caminhos que nos levam à senilidade. Naquela elocução eu concluía que devemos ignorar o prazo de validade que nos é atribuído quando nascemos e  que o melhor é continuar cumprindo as tarefas quotidianas no limite da nossa capacidade. Dois anos se seguiram com alguns sustos e muitas emoções.

Desta vez foi diferente. Eu me encontrava fora de casa, do outro lado do Atlântico, percorrendo os campos de trigo e girassol que dividem com a uva verdicchio as colinas agrícolas da região de Le Marche na costa italiana do Mar Adriático. Passei dias percorrendo as zonas rurais para observar o que fazem os camponeses nas suas cozinhas.  “Ainda é tempo de aprender alguma coisa”, pensei. A capacidade que tem a gente do campo para  improvisar e produzir coisas saborosas a partir de  ingredientes simples, sem receitas e implementos modernos, sempre me impressionou. Desprovidos de sofisticação e formalidade, seus jantares são sempre encontros festivos, alegres e divertidos.

Uma noite, depois de exaustivas e hilariantes discussões sobre a melhor forma de ralar o parmesão e determinar o ponto certo com que se deve grelhar a “Bistecca alla Fiorentina”, custei a adormecer. Em parte pelo cansaço e em parte porque descobri que havia vencido mais uma batalha mas não me havia preparado para os combates que viriam. Os dias  passavam e eu começava a sentir a nostalgia da partida. A viagem de volta foi cansativa, espremido naquelas gaiolas em que foram convertidas as outrora confortáveis poltronas da classe econômica, hoje o melhor exemplo da degradação humana.

Já em casa, deitado na cama em pleno dia para refazer-me da ausência de sono durante as doze horas que durou aquele voo  anestesiado por filmes idiotas, voltaram-me as reminiscências da infância. Revi o lago onde nasci  suas delicadas ondas acariciando os barcos e as amuradas das casas. As montanhas escarpadas que o circundam,  com seus castelos e igrejas de altas torres e sinos enormes ecoando pelos vales. Subindo a colina vi o riacho que movia os moinhos, um após o outro, suas rodas d’água murmurando uma ladainha melancólica como que se despedindo da vida. No topo do monte duas vaquinhas – apenas duas, porque tudo ali é pequenino – badalavam seus chocalhos e me olhavam nos olhos para me avisar que logo a neve chegaria e elas teriam de ser levadas para o estábulo. Uma construção de linhas harmoniosas, levantada em pedras esculpidas, formando arcos que se sustentam sem o apoio de colunas, fruto de uma arquitetura espontânea de fazer inveja aos ingegnieri de hoje. Lembrei-me do pátio onde meu tio ferrava os cavalos, de minha mãe sentada na cozinha  debulhando as ervilhas e eu deitado num banco de madeira, barriga pra cima, contemplando o teto em grandes arcos formando uma abóboda que, aos olhos daquela idade, parecia uma enorme catedral. E o cheiro da polenta que saia  do caldeirão de cobre pendurado na lareira  acesa atenuava  meus impulsos para sair e brincar na neve e mitigava meu estômago faminto.


Parei meu pensamento e sufoquei as lembranças. Olhei para mim mesmo. Eram emoções muito fortes para o meu combalido espírito. Eu me  debatia entre um passado bem vivido e um futuro incerto. Senti que a vida se esvaia. Essa paixão nostálgica me acabrunhava. O sentimentalismo não me conduziria a nada. Precisava reagir. Decidido a enfrentar com energia o porvir incerto pulei da cama, ergui a cabeça com altivez, empinei o nariz e fui consertar a descarga do banheiro que se havia desmantelado na véspera da viagem.


30 julho 2012

Viagem


Tenho saudades das viagens que fiz e mais ainda das que não fiz. Quantas vezes, perdido num bairro cinzento dos arredores de Londres ou comendo tortillas de oloroco na varanda de um bar em El Salvador  ou, ainda, fazendo Cooper nos jardins do templo Prat Keo, em Bangkoc, prometi a mim mesmo que um dia voltaria ali com minha mulher e meus filhos. Não cumpri a promessa e minha vida continuou numa avassaladora sucessão de embarques e desembarques, reuniões e relatórios, acordos e desacordos, contratos e distratos. De tanto trabalho e sofrimento pouco restou a não ser a saudade que me acalenta nos momentos de solidão, já que não tenho voz para cantar nem habilidade para dedilhar uma harpa. Alimentando a saudade  resta agora um amontoado de memórias que, como disse Humberto Eco, estão destinadas a receber uma etiqueta com o aviso   “lembrar-me mais tarde” ou, então, serão deixadas em repouso para amadurecer.  Como os vinhos.

De uns tempos para cá tenho passado meus dias fazendo monótonas viagens de ônibus entre Friburgo e o Rio de Janeiro. O trânsito caótico do Rio tem-me desestimulado a dirigir, coisa que só faço quando tenho algo a transportar. Por outro lado, dirigir um automóvel com 1.000 cc de motor  faz com que a viagem, além de  monótona, se torne cansativa e estressante.
No entanto, já fiz viagens bem mais interessantes na minha vida.  Algumas se destacaram pelo inusitado da rota. Outras, pelo deslumbramento da paisagem, ou pela inclemência do tempo ou pela bizarrice do convívio. Não faltaram, também, viagens bucólicas, como a que fiz, por trem, entre Salvador e Nazaré das Farinhas, na Bahia, contornando a baia de Todos os Santos onde, em certos trechos, o trem andava tão devagar que alguns passageiros saltavam para colher a cana que crescia ao longo da estrada, voltando ao trem alguns vagões atrás. Era muito divertido. Eu levava um toca-discos portátil, operado a bateria, o máximo da tecnologia para aquela época. Coloquei para tocar um disco com as canções de Lampião cantadas por Volta Seca e, em pouco tempo, todos estavam dançando xaxado dentro do vagão.  

Fiz uma viagem, pela Varig, de Tókio ao Rio de Janeiro,  que durou trinta e três horas sem sair do avião. Deu a volta pelo Pacífico. De Tókio a Los Angeles foram doze horas, com escala no Haway. O restante foi distribuído entre Caracas, Bogotá, Quito, Lima, La Paz, Santiago, Buenos Aires e Rio de Janeiro. A cada escala, gente nova. Conheci Astecas, Incas, Quechuas, Mapuches e Guaranis, bem como os indefectíveis Portenhos. Quando desembarquei, claro, os pés não cabiam nos sapatos. Quem viajou naquela época sabe do que estou falando.

No caminho inverso viajei de Frankfurt a Tókio num voo  experimental da Lufthansa, sobrevoando o Polo Norte, com a finalidade de  estudar  não-sei-o-que. Havia uma espécie de periscópio espetado no teto, manejado por um tripulante, que o fazia subir e descer, fazendo anotações apressadas. Voávamos a baixa altitude, o que me consolava, pois imaginei que se caísse, o avião deslizaria suavemente como um esqui sobre aquela imensa placa de gelo que não terminava nunca. 

Vi os mais lindos batiks da minha vida pendurados em varais,  à beira de uma estrada de ferro em Jakarta, Indonésia. Em viagem para  Bandung, distante cerca de quatrocentos quilômetros de Jakarta, o trem vai o tempo todo serpenteando  montanha acima em baixíssima velocidade. Olhando pela janela eu contemplava as encostas cobertas de mata quando,  subitamente, perdi o fôlego. Eu me vi simplesmente suspenso no ar, dentro de um vagão que continuava sua marcha, sem ter nada que o sustentasse. Só ao chegar na primeira curva foi que percebi a pequena estrutura feita de sarrafos de madeira onde se apoiavam os trilhos. E só eles.

Fiz, a pé, uma viagem em direção ao centro da terra. Não caminhei mais do que um quilômetro dentro de um túnel com uma pendente que daria, creio eu, cerca de vinte por cento. Envolto em um espesso capote percorri o caminho iluminado por pequenas lâmpadas bruxuleantes devidamente escamoteadas nas paredes da rocha. Estava em Viena onde, na véspera, eu me havia esbaldado nas festas da vindima em Grinzing, abusando daquele vinho branco voluptuoso e enganador. Não posso dizer que me cansei com a caminhada mas eu sentia um leve torpor e estou seguro que não era consequência da esbórnia da véspera. Foi quando dei de frente com um enorme lago, que refletia tantas luas quantos eram os holofotes que o iluminavam. Um deslumbramento. O silêncio, a quietude do ar, a água imovel,  faziam do lago uma placa sólida que se perdia na penumbra sem que se pudesse ver a  margem oposta. Fiquei preso ao chão esperando que um anjo descesse e me fizesse desaparecer no centro do lago.
Apareceu um barco a remo, manejado por um baixinho parrudo que, imaginei, deveria ter sido mandado por Guilherme Tell.  Navegamos a torto e a direito, perturbando a quietude das águas. Eu contemplava as ondas em círculo que se expandiam a partir de cada pingo d’água que caia dos remos. Aportamos na outra margem. Mais uma caminhada de quinze minutos na penumbra onde o relógio não marca as horas e, subitamente, outro lago! Outro passeio de barco, tendo como paisagem a escuridão. Eu custava a acreditar que pudesse existir tal coisa  escondida nas profundezas da terra.
Estes lagos subterrâneos são uma das atrações turísticas mais  interessantes da Áustria. No entretanto, são pouco conhecidas. Conversei com vienenses que sabiam da sua existência mas nunca as tinham visitado. A  maior parte deles nem sabia que existiam.

Outra viagem em direção ao centro da terra são as grutas de Frassassi.  Esta, juntamente com uma viagem na superfície do mar, em plena adolescência,  ficarão para  outra oportunidade.


18 maio 2012

Os Chineses chegaram


No início dos anos 90 os jornais não paravam de anunciar: “Os Chineses estão chegando!” Ao passar para a economia de mercado a China entrou num processo de crescimento acelerado, invadindo os mercados externos. Hoje, os jornais alardeiam: “Os Chineses chegaram!”

Governos e Empresários tentam explicar o que estão fazendo os Chineses, e procuram, desesperadamente, conter  a invasão de seus produtos, colocados aqui a preço de bolo de goma. Aqui e no resto do mundo. Na sua crônica de 12 de Março último “A China e nós”, Paulo Guedes analisa esse problema com grande maestria, a partir de uma pergunta que lhe fizeram em todos os lugares por onde andou no que ele chama, modestamente, “um rápido giro pelo exterior”: três capitais da Europa e as cinco maiores cidades dos Estados Unidos.  A  pergunta foi: “A desaceleração econômica da China pode derrubar a dinâmica do crescimento brasileiro?” Vale à pena ver  o texto de Paulo Guedes que, além da análise brilhante, brinda-nos com uma pérola de bom humor: “A atuação particularmente pirotécnica do Federal Reserve, o banco central americano, ao desvalorizar continuamente sua moeda ...”

Anos atrás tive a oportunidade conviver com os Chineses. Quando eu me dedicava à elaboração de projetos para a indústria têxtil trabalhei com um grupo de empresários interessado em montar uma fábrica no Brasil. Estávamos em Natal, Rio Grande do Norte, onde a fábrica seria instalada. Apresentei-lhes, orgulhosamente, o anteprojeto que havia elaborado no qual eu mostrava que, com a taxa de retorno do capital encontrada, o empreendimento se pagaria em seis anos, um recorde para os padrões brasileiros na época.

 “Muito comprido” – argumentaram  eles – “nós não investimos em nenhum projeto com retorno superior a três anos”. Essa era a dinâmica dos Chineses. E estou falando da década dos oitenta.

Convivi com Chineses em Singapura onde reinam soberanos. Diligentes, disciplinados, eficientes em tudo, cuidadosos nos detalhes, prestativos e, além disso, educados e gentis. E convivi com eles na Indonésia onde, em minoria étnica, eram segregados, perseguidos e vítimas de todo o tipo de preconceito. Só para dar uma ideia: Eu precisava ir a Bandung, cidade próxima a Jakarta,  onde eu me encontrava, numa viagem de última hora. Pedi a uma agência de turismo  que me reservasse  acomodação num hotel de Bandung. Meia hora depois veio a resposta: Impossível, todos os hotéis estão lotados. Implorei, e depois de três ou quatro telefonemas desesperados veio uma solução:
“Senhor, todos os hotéis em Bandung estão lotados. Eu consegui um quarto num “hotelzinho”, mas é chinês. O senhor vai querer assim mesmo?
Essa era a dimensão do preconceito que sofriam os chineses  na Indonésia, naquela época.

Eu me perdi em digressões porque minha intenção era falar da chegada dos chineses e acabei deixando-me trair pelas memórias. E foi pelas memórias que descobri uma verdadeira profecia sobre os chineses, lançada por Giovanni Papini, “o escritor maldito”, que conheci na minha adolescência.
No final de 1951 Papini concluía  “O Livro Negro” no qual o  personagem Mr. Gog apresenta a sua visão sobre o desenvolvimento da China. Nada mais atual, como veremos. E, antes que o meu incauto leitor abandone a sua leitura, por maçante que é, quero antecipar uma citação do que escreveu Papini:

 “Os Chineses serviram-se da república de Sun-Yat-Sen para se livrar dos parasitas do velho império Manchú; serviram-se do bolchevismo para se desfazer  dos parasitas da república burguesa; livrar-se-ão qualquer dia, sob uma bandeira escolhida por comodidade, dos parasitas do comunismo” ... “A eles pertencerá, com o tempo, a Terra.”

Através de um colóquio travado numa suposta entrevista de Gog com o pensador chinês Lin Yutang, Papini desvenda os meandros da cultura chinesa. Certamente nem todas as palavras atribuídas a Yutang teriam sido proferidas por ele.  Seriam frutos da interpretação que Papini fazia da leitura do filósofo, do qual era um leitor apaixonado e voraz. No imaginário colóquio,  “e sem maiores rodeios”,  Lin Yutang começa a explicar:

     - “O povo chinês é o mais perigoso que há no mundo e, por isso, está destinado a dominar a terra. Por séculos e séculos ficou fechado nos confins do imenso império porque acreditava que o resto do planeta não tinha nenhuma importância. Mas os Europeus, e depois os Japoneses abriram-lhes os olhos, os ouvidos e os espíritos. Quiseram à força arrancar-nos do nosso covil e hão de pagar caro a sua cobiça e curiosidade. Há um século que os Chineses esperam a vingança, e vingar-se-ão. A revolta dos Boxers, em 1900, não foi senão a primeira tentativa, mal conduzida e mal sucedida. Mas o povo chinês é astuto e paciente: escolheu outros caminhos. Em 1910 converteu-se à democracia republicana; em 1948 ao comunismo. Na realidade os Chineses não são conservadores, nem democráticos, nem comunistas. São simplesmente Chineses, isto é, uma espécie humana à parte, que pretende viver e sobreviver, que se multiplica e se deve expandir mais por necessidade biológica que por ideologia política.”
“O povo chinês é imortal, sempre igual a si mesmo, sob todas as dominações. Nem os Tártaros, nem os Japoneses, nem os Americanos, nem os Russos conseguiram ou conseguirão transformá-lo. Levará o tempo que for preciso mas o futuro a ele pertence” 

É neste ponto do colóquio, na verdade um suposto monólogo do filósofo chinês, que aparecem as palavras mencionadas na citação que antecipei.

Os chineses chegaram e é melhor recebê-los com simpatia. Por enquanto estamos preocupados apenas com a economia. Dentro de pouco será com a cultura e com a etnia.  Porque logo terá inicio a miscigenação e então seremos uma nação afrosinodescendente. Com muito orgulho.


07 maio 2012

Ruas



Pediram-me para falar de ruas. É tarefa que cumpro com agrado. Porque ruas são caminhos. E caminhos levam a destinos. E destinos são pessoas.  Ruas-caminhos.  Ruas-destinos.
De ruas-caminhos não vou falar porque delas já falou, com grande maestria, em seu alentado volume  “A Alma Encantadora das Ruas”, o grande cronista João do Rio. Falarei de ruas-destinos que, como pessoas, além de nome e alma  como disse o Cronista, também têm um corpo.

Começarei com o Albano Ruas, cidadão português, “moço distinto com exercício no Paço” digno Oficial da Guarda Civil do Estado de São Paulo, amigo de meu pai, nosso  vizinho de casa no Alto da Vila Maria, quando eu tinha oito anos de idade. Para mim, seu Albano representava a Lei, a Autoridade, a Sabedoria e a Elegância. Vê-lo em seu uniforme impecável azul marinho e botões dourados inspirava-me confiança. E era ele quem me trazia os gibis que formaram o meu embasamento cultural. Seu Albano me resgatou de um tombo catastrófico que levei quando estava “a chocar bondes”, apostando quem seria o último a pular do carro em movimento. Recolheu-me do chão, enxugou o sangue que me escorria dos braços e joelhos. Não disse palavra. Tomou-me pela mão e, sempre em silêncio, conduziu-me pela longa caminhada que leva da planície até o alto do morro.  Entregou-me à minha mãe e disse apenas: “Ele foi o último a saltar”.

Outro nome que tenho presente é Arnaldo Ruas, de São Paulo, um competente  profissional de informática, que atua como consultor de software. Tenho seu nome anotado pois talvez venha a precisar desse tipo de serviço num projeto que estou desenvolvendo: implantar, na minha nuca, um ship que permita silenciar os aparelhos de televisão instalados em todos os lugares que frequento: bares, restaurantes, consultórios médicos, bancos, salas de espera de qualquer natureza, feiras livres ou não, ônibus em viagens de longa distância, e até mesmo aquela maldita musiquinha dos atendimentos eletrônicos incluindo a frase “a sua  ligação é importante para nós”.

Agora quero falar de outro cidadão importante, também português: O senhor Antonio Ruas, presidente da AMBC – Associação de Municípios da Cova da Beira e editor da Capeia Arraiana, uma página da internet que defende os interesses daquela região que, segundo suas palavras, vai do  “Sabugal e do distrito da Guarda, movido à paixão pela Raia, pelas terras do Forcão, pelas Serras da Estrela, da Malcata e das Mesas, pelo Rio Côa e pelo povo valoroso que luta pelo futuro de uma região que alguns querem condenar ao fracasso”
Foi nessa página que encontrei uma ótima receita de caracóis que passo imediatamente a vocês:
Caracoleta  Deliciosa
Você vai precisar de: manteiga, alho, cebola, salsa, caldo de galinha, molho de soja e, obviamente, caracóis. (os da Cerdeira de Côa, fornecidos pela Caracol Real, são os melhores pois já vêm limpos e cozidos) Basta refogar o alho e a cebola na manteiga, acrescentar os demais ingredientes e, por fim, os caracóis.
Esta receita foi útil pra você? Então publique-a no facebook, mas não diga que fui eu quem deu a ideia.

Ruas há muitos e já que tomei o embalo  comecei a colecioná-los. Minha lista está à disposição de todos. Só precisarei de algum tempo para classificá-los, ainda não sei bem se por nacionalidade, profissão, projeção social, benfeitores da humanidade , vivos ou mortos, políticos ou ... deixa pra lá.

Absit injuria verbis 
Escrevi essa brincadeira de implantar um chip na nuca só para manifestar o incômodo que me é uma televisão ligada num momento em que eu não pedi, num volume que eu não suporto, mostrando  coisas que não me interessam e impedindo que eu possa ler o meu jornal sossegado. Sei que tem gente que gosta de ver  televisão à toda hora e não tenho nada contra elas. Elas não serão obrigadas a  implantar o chip, como eu sou obrigado a assistir a televisão delas.
A idéia do chip não era tão maluca pois o jornal O  Globo,  de 18 de Maio último, no Caderno Ciência, em matéria de página inteira, publica:  “Implante cerebral permite a tetraplégicos controlar braço robótico para mover e agarrar objetos”.
Que não haja ofensa nas minhas palavras.