21 dezembro 2015

Natal Tropical


O Natal chegou. É preciso comemorar. O trânsito já está confuso. Gente apressada correndo de um lado para outro. Comprar presentes, visitar amigos e parentes que ficaram esquecidos o ano inteiro, reservar ceias em restaurantes lotados, levar as crianças ao shopping para tirar fotos no colo do Papai Noel, “aquele barbudo embalsamado dentro de um macacão  vermelho”, como diria o Severino Mandacaru.   E isto a quarenta graus celsius. Credus!  A televisão nos incita e nos deixa com sentimento de culpa. Como, ... você não vai festejar?

Vou festejar sim, e quero ter minha família e meus amigos comigo. Mas, este ano, quero uma festa diferente. Quando, ao descer a serra, vejo aquela neve de algodão flutuando sobre galhos de pinheiro que nunca vi, ao sol de quarenta graus, aquele gorducho com olhar desapontado   porque não encontra em mim o deslumbramento consumista que faria a alegria do seu patrocinador, sinto-me encurralado. Nada tenho contra os festejos do Natal tradicional, enlatado, com seus panettones, seus vinhos espumantes e seus perus recheados. Mas este Natal quero que seja diferente: quero festeja-lo com um bolo tropical que adaptarei  de um doce muito conhecido no Nordeste, feito de massa puba.

 E darei ao meu Natal a cor verde do mar do Cabo de Santo Agostinho, o vermelho do pôr de sol no Rio São Francisco e o prateado da lua refletida no Cais do Apolo. E quero compartilhar com meus amigos e meus incautos leitores o conceito de Natal proposto pelo meu amigo poeta Wanderlino Teixeira Netto:



“NOEL TROPICAL”
                                                     Wanderlino Teixeira Netto


“Enfeitarei com bolas de bexiga meu pé de angico
plantado lá no fundo do quintal.
Não virá, neste Natal, Noel, aquele tal:
gordo, patusco, bem nutrido .

O que há de vir é nanico, endividado, sofrido,
sem gorro na cabeça chata,
de bermuda, camiseta e alpercata.
Em vez da alva barba, a boca em caco
e um balaio, não o saco.

Haverá Sol em lugar da neve de algodão
e os sinos não badalarão neste Natal:
os sons serão de berimbau!

Nada de castanhas, nozes, avelãs e vinhos de outros cais,
apenas aguardente e frutos tropicais!”
Vejam só: Noel virá de jegue, não de trenó!

Até nem será Noel quem virá neste Natal,
mas Severino e Ribamar, e Juvenal e Zé...
que hão de dispensar a sorrateira chaminé!”