VOCÊ NÃO TEM RAZÃO
Quando reli a última crônica que aqui deixei, pedi desculpa
aos meus incautos leitores. Comecei a falar de mim mesmo e de minhas mazelas,
completando com o que gostava e não gostava. Mortificado, percebi que eu havia
escrito um pedido de “extrema-unção”,
Não era verdade que eu não gostava de política. No ano de 1964, eu vinha de Montes Claros,
Minas Gerais, onde estava trabalhando no projeto de uma fábrica de tecidos. Eu
desembarquei no Aeroporto Santos Dumont e tomei um taxi que me levaria até ao
Centro, mais exatamente, à Pensão da Dona Maninha. Daí eu tomaria outro avião
para o Recife, onde tinha a residência.
O taxi começou a dar voltas desnorteadas, parecia perdido. Perguntei ao
motorista o que estava acontecendo. “É o Comício da Central. O Presidente da República está falando.” Pedi
ao motorista que me deixasse o mais próximo possível do palanque. O Presidente
João Goulart discursava:
“O Imperialismo americano está acabando com o nosso país. São
eles que mandam aqui. A remessa de lucros etc., etc., etc. Fiquei até o fim do
comício. E disse comigo mesmo: “Isso vai dar merda.” Voltei para Recife.
Estávamos no começo do mês de março. Eu trabalhava na Sudene, cuidando do
Programa de Reaparelhamento da Indústria Textil. Os dias se passaram. Foi quando ouvi um boato
que dizia: “Um certo General Mourão encontra-se aquartelado com suas tropas em
Juiz de Fora, pronto para descer e ocupar o Palácio do Catete.” Comentei isso
com meus colegas de trabalho. Todos caíram na risada. No dia 31 de março, eu estava no meu
escritório quando ouvi um barulho de motores. Fui olhar pela janela e vi o
Palácio das Princesas cercado por tanques armados. No mesmo instante chegava a
informação de que a porta do edifício da Sudene estava bloqueada por soldados.
Ninguém podia sair. Mas podia entrar.
Ato contínuo, foi indicado o General que assumiria a
Superintendência da Sudene. Antes, porém, o Ministro Celso Furtado foi
convidado pela Junta Militar a permanecer no cargo. Ele agradeceu, mas disse
que iria para os Estados Unidos e assumiria uma cátedra numa Universidade
local. Na Sudene, eu retomei meu trabalho tranquilamente. Uma semana depois, li
no jornal uma entrevista concedida pelo General Superintendente: “Quando
assumi, me disseram que eu iria encontrar um antro de comunistas fanáticos. Não
foi isso que encontrei. Só encontrei gente competente, trabalhando com esforço
para o desenvolvimento d região.”