Rigatoni com carvoezinhos de carne e sálvia
Preparei "a grande receita" mas resolvi que só a publicaria depois que alcançasse, pelo menos, 80 por cento de aprovação numa pesquisa feita entre os meus incautos leitores. Já alcancei 9 por cento. Estou pensando em ampliar o universo da pesquisa, mas, com quem?
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Passados alguns dias preparei-me, como
disse, para ampliar o universo da
minha pesquisa buscando melhorar o índice de aprovação à minha grande
receita, que só havia alcançado 9 por cento. Para meu espanto, 7 por cento
haviam desaparecido, mas eu ainda continuava com 2 por cento. Não desanimei.
Resolvi publicar a receita assim mesmo, sempre inspirado naqueles cientistas geniais que acabam inventando
coisas uteis porque o que estavam fazendo dava errado. Você conhece as histórias: a
descoberta da borracha para pneus, a invenção do velcro, do papelzinho de
recados que cola, descola, e cola, etc.
etc.
Não sou muito de ver televisão mas
disseram-me que ali são frequentes os programas de culinária que ensinam a
aproveitar sobras das refeições do dia a dia para fazer pratos deliciosos.
Procurei na geladeira o que havia sobrado da noite anterior. Nada de volumoso
ou coisa que me permitisse efetuar grandes elaborações. Apenas um prato de
carpaccio, você sabe, aquela carninha cortada com o micrótomo e que se come
crua. Imaginei utilizá-lo, não como carpaccio, por natureza cru, mas como carne
cozida. Picado e refogado na manteiga, adicionado de salvia, eu teria um molho
para um prato de massa. Esta seria o rigatoni, uma massa curta, e eu teria,
assim um prato clássico que na Itália recebe o nome de “Alla Bergamasca”.
Piquei a carne com cuidado pois a
espessura das lâminas não permitia exageros. Coloquei a manteiga para aquecer e
prestei muita atenção à sua temperatura para não queimar aquelas micro
partículas de carne. Tudo funcionou como podia ter sido previsto. Ao dar a
primeira volta com a colher de pau minhas ricas partículas de carne haviam se
transformado em ricos grânulos de carvão. Um prato singelo, de valor estético
inestimável. O contraste dos pontinhos pretos envolvendo o tubo branco do
rigatone era, realmente, uma coisa nova e difícil de obter. Fiquei contemplando
a minha obra e cheguei à conclusão de que havia criado algo digno da cozinha
molecular. Quando li o livro do Hervè This, há um par de anos, sobre cozinha molecular, não pensei que um dia chegaria tão perto de
criar uma coisa do gênero. Eu tratei desse assunto muitas crônicas atrás em “O
sabor oculto das coisas”, creio que foi em Novembro de 2012. Não sei como
as coisas evoluíram de lá pra cá. Mas
fiquei muito orgulhoso com a minha invenção.
Inventar é muito bonito. Duro é comer o fruto da invenção.
Já sei, você está dizendo que roubei o título do Paolo Sorrentino "La Grande Bellezza". Roubei mesmo. E você, já viu o filme? Não perca.
Já sei, você está dizendo que roubei o título do Paolo Sorrentino "La Grande Bellezza". Roubei mesmo. E você, já viu o filme? Não perca.
Li e pensei: "se eu tentar fazer algo parecido, qual será o resultado do meu intento?
ResponderExcluirGrande abraço e continuo me deliciando com o que vc escreve. insisto: publique essas coisas...
Abraços,
shirley
Hahahaha.. Vou tentar em casa!
ResponderExcluirRicardo
Por onde anda vc?
ResponderExcluirMuito bom o texto!
ResponderExcluirMuito legal quando somos criativos e nos permitimos a inventar e criar. Quantas inventores estão espalhados por ai fazendo novas criação e não percebemos. são pequenas conquista como a sua na cozinha. Estimular a criatividade e se permitir ao conhecimento nos trás frutos mas, lhe roubando a frase, "o duro e comer o fruto..."
hahahahahahah
Obrigado Guilherme. Eu continuo queimando coisas. Agora, com o marasmo do isolamenteo, só tomo conhecimento que deixei algo no forno pelo cheiro de queimado que vem acariciar as minhas ventas.
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