30 dezembro 2009

DELITOS DA INFÂNCIA - O PATINETE

 Antes da invenção dos ridículos joguinhos de computador, agora em processo de metástase para telefones celulares, a gente brincava de patinete. Brincava, não. Praticava o esporte do. E o sonho de qualquer criança era ter seu próprio patinete. Na Vila Maria todos tinham o seu. Aos dez anos de idade, eu ainda não tinha o meu. Meu irmão, oito anos mais velho que eu, era mecânico e tinha em casa uma verdadeira oficina. Entre ferramentas, instrumentos de medição, peças usadas e sucata de toda espécie, existia a parte essencial do patinete: a rolimã. Muitas rolimãs! Se eu tirasse duas, só duas, daquela promiscuidade de formas e tamanhos, ele não perceberia. Separei as duas que precisava, de tamanho compatível com a minha infância. Eram de diâmetros diferentes, mas isto não seria problema. Naquela manhã, antes da hora do almoço, eu já estava com meu patinete montado. Deslizei por Seca e Meca até que, no fim do dia, encostei-o, triunfante, junto à porta da cozinha. Eu estava orgulhoso. Eu o havia feito. No fim do dia meu irmão volta do trabalho. -- Oi, você ganhou um patinete? -- É... ganhei. Ele deitou o veículo, observou-o atentamente e recolocou-o na posição que estava, sem dizer palavra. Preparei-me para o pior. Percebi que ele tinha reconhecido as rolimãs. --O sujeito que fez esse patinete é muito burro. Ele colocou a roda maior na frente. Devia ter feito o contrário. Com a roda menor na frente o impulso é maior e o patinete rompe a inércia com mais energia, facilitando a partida. Explica isso pro teu amigo. No dia seguinte desmanchei o patinete e coloquei de volta as rolimãs . Penitenciei-me do meu delito, não tanto pelo remorso do furto cometido mas pela humilhação de ter sido incompetente.

4 comentários:

  1. Trata-se de um incorringível cometedor de delitos! Com esse são três só até os 10 anos. E agora nem mais se arrepende!

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  2. Ei Luigi, gostei do teu delito!
    Assim vou entendendo as suas sapequices na oficina do Pena!
    beijos

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  3. Mecânico e físico! Que memória linda, vovô! As crianças iam além da criatividade para inventar brincadeiras. Nos tempos de hoje essa é uma habilidade muito boa de se ter.

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    1. É isso mesmo Marina. Aos 8 anos, na Vila Maria, todo o mundo trabalhava. Meu irmão, ja era mecânico e eu o admirava. Então juntei uns retalhos de madeira na sucata de casa e construi uma caixa de engraxate, coisa comum na época. E fui engraxar sapatos.

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