CAPÍTULO 7
Novas atividades na CEPAL
O trabalho no Chile, continuou eficaz. Os estudos da indústria têxtil dos países latino-americanos estavam publicados. O meu contrato de trabalho, inicialmente de sete meses, foi se ampliando e eu acabei me tonando funcionário permanente ou “ de planta “ na denominação local. Assim, comecei a fazer estudos para outros setores, começando com o metalmecânico que me era mais familiar.
Depois de algum tempo, fui cedido ao ILPES - Instituto Latino-americano de Planificación Economica y Social, um Organismo da própria CEPAL, onde passei a dar aulas e organizar Seminários, sempre tendo setores industriais como modelo.
O
trabalho era gratificante e o convívio com alunos ilustres – professores,
alguns ministros de Estado - fez com que
eu aprendesse muito. Por outro lado, a tarefa não era cansativa. Tínhamos um
convívio social intenso e um círculo de amigos muito ativo, sempre organizando
jantares e passeios.
Para mim, Santiago era um paraíso. Cidade limpa, organizada, silenciosa, sem violência. Polícia exemplar. Ai daquele que tentasse subornar um policial. Seria preso no ato.
Eu
morava em Vitacura, um bairro pacato, estritamente residencial. Todas as manhãs
eu ia buscar o leite. Era embalado em garrafas de vidro colocadas em um
engradado, na esquina de casa. Eu levava a garrafa vazia e colocava o dinheiro
numa caixa de papelão, onde já havia um monte de moedas e cédulas. Nunca encontrei
ninguém.
Nos
fins de semana, passeios a Viña del Mar, visitas a Isla Negra, onde viveu Pablo Neruda ou visita à
Gascona, sua casa em Santiago, passeio por Costanera e almoço em Las Condes.
O tempo passava e eu vivia feliz com o meu trabalho. Mas o destino, às vezes, nos reserva uma surpresa. Quando eu menos esperava recebo uma carta do BNB - Banco do Nordeste do Brasil convidando-me a trabalhar no Brasil. Eu já havia trabalhado com o Banco pois ele formava, com a Sudene, o Programa de Reaparelhamento da Indústria Têxtil. Adaptando a loquacidade da carta para termos informais, ela dizia o seguinte :
-- “Galego, você que trabalhou tanto com a gente e que dizia que o Nordeste era a sua Pátria, por que não volta pra cá ? As fábricas de tecidos aqui continuam fervilhando e carentes de ajuda técnica. “
Isso foi suficiente para disparar uma centelha na cabeça do Galego. Comecei a despedir-me dos colegas de trabalho da CEPAL, enfrentando abraços e enxugando as lágrimas. Despachei os poucos moveis e os “efectos personales “ de que dispunha por navio em no dia 5 de Setembro de 1968 eu embarcava para o Recife.
Deixei a família na velha casa e parti para Fortaleza. No Banco, recebeu-me o Aldenor, advogado do Departamento de Crédito Industrial, * o qual iniciou os procedimentos para a minha admissão. Documentos, exame médico e não sei quantas certidões negativas, inclusive algumas que tratavam de tendências políticas, opiniões sobre o Governo daqui, do Chile, da Bessarrábia e não sei o que mais. Descobri então, que havia acabado de ser promulgado o AI 5, destinado a consolidar as normas da ditadura no Brasil.
Admitido, depois de um breve período em Fortaleza, fui transferido para a Agência do BNB no Recife e continuei fazendo o que sabia : cuidar de fábricas têxteis. Passado um curto período, pedi demissão e abri meu próprio negócio. Fundei a CTA – Consultores Têxteis Associados, uma empresa especializada na elaboração de projetos têxteis, sem empregados, mas com dois Diretores : Eu e minha esposa Dorotéa Brasil.
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Ver crônica “Aldenor, o Messias” Página 119 do livro “Memórias de um Vago” , ou www.memoriasdeumvago.blogspot.com