16 outubro 2020

Setembro se foi

 

Eu fiquei. E comigo ficou a primavera com seu clima ameno e seu sol encabulado. Os sabiás com seu chilreado, não se cansam de cantar. Os saguis pulam, cada um no seu galho e tentam nos confundir com seus assobios disfarçados. A natureza penetra polos nossos poros e nos obriga a viver felizes mesmo contra a nossa vontade. Crianças alegres saltitam agilmente brincando de Amarelinha sobre os retângulos desenhados com giz branco sobre a calçada.

 “ Você tá variando, Galego. Amarelinha ?  Quem já viu criança brincando na calçada hoje em dia ? Pulando amarelinha, e com uma perna só, não é, Galego ? Também viu moleques no meio da rua jogando pelada com bolas improvisadas, feitas de meias velhas não é ?  Você tá leso, pirou de vez Galego. “.

 “ Ué, você táva aí, Severino ?

 “ Criança hoje só faz joguinho no celular. Está todo o mundo ali, com a cabeça mal espetada no topo do esqueleto, ninguém fala, olhar fixo na tela procurando adivinhar de onde vem a próxima paulada, facada, bomba, relâmpago, estrondo ou a suprema desgraça : a frase  “ game over ”

 “ Pera aí Severino, não é bem assim . . . o mundo de hoje . . . “

 “ Quer saber de uma coisa, Galego ? Vai jogar xadrez, vai ! “

 Setembro se foi. E foi um mês de muita felicidade e alegria. Foi um mês de comemorações, de festejos, de agradecimento a todos os membros da família dispersos por este mundo afora, separados por fronteiras que a Pandemonia, sem acento nem endereço, resolveu tornar intransponíveis.

 Foi um mês, também, de reconhecimento aos amigos, que nos acompanharam com sua presença, agora virtual, suas palavras de apoio e incentivo, sua contribuição na solução das mazelas quotidianas que nos alcançam na flor da idade, ou melhor, na idade provecta.

“Domine non sum dignus”.

Pois agora é preciso viver o Outubro e tudo o que vem pela frente: Consertar ossos quebrados, endireitar colunas tortas e desinchar os pés, cozinhar macaxeira e lavar as próprias panelas.De resto, pouco tenho a lhes oferecer. Fica pelo menos o consolo de que esta crônica saiu bem curtinha.

2 comentários:

  1. Entre um setembro e outro muitas coisas mudam e a Natureza se reorganiza para fazer setembro rebrotar. Que suas Crônicas continuem brotando, mesmo quando não seja setembro, e que receba a cor de cada emoção da mesma forma que cada mês transpira a cor do calor que recebe.

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  2. Obrigado C.Guilherme, pelo seu comentário assaz encorajador. Esperemos que esta Pandemonia, sem acento nem endereço, possa aliviar em tempo habil o castigo que desabou sobre nossas cabeças.

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