09 maio 2020

Confissão





Triste é você descobrir que o computador virou o melhor amigo do homem.

Triste é você acabar escravo dos “tizapps” da vida e, na ânsia frenética de dar respostas, descobrir que seu dedo aperta 3 letras ao mesmo tempo. Você  leva mais tempo para corrigir do que levaria para escrever. Não se faz mais dedos como antigamente !

Triste é você descobrir que a bengala virou o móvel mais importante da sua casa.

Triste é você não poder tirar aquele livrinho da estante mais alta da sua biblioteca porque não pode mais subir os degraus daquela escadinha de meio metro de altura.

Triste é não poder mais ler bula, plaquinha, aviso, coluna de jornal e o que mais for, porque as letras ficaram misteriosamente miúdas e você precisa de uma lupa para enxergá-las.

Triste é você descobrir que o nível do chão  ficou mais baixo do que era antes, e que o mesmo sofá no qual se sentou toda sua a vida ficou mais longe e agora você desaba nele como um saco de batatas.

Triste é quando você conta aos seus amigos que votou no Bode Cheiroso, e eles  dizem que você  é o responsável pela desgraça que desabou sobre suas cabeças.

Triste é que, quando eu for reler este mísero texto, manuscrito que foi, eu não vou conseguir entender nem a metade das palavras que escrevi.

Mas . . . Triste mesmo será quando eu não tiver mais motivos para ficar triste. Porque aí, eu me darei conta de que era feliz e não sabia.




2 comentários:

  1. A dualidade faz parte do ser humano:uma parte luz outra sombra, uma parte recional outra emocional, uma parte Feliz outra triste. Mas essa confissão é muito triste, explícitamente, implicitamente e no que diz sem ter dito. Arte Fenomenal!!!

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    1. Obrigado C. Gulherme. Bem observado: "no que se diz sem ter dito". Vamos enfrentatar a realidade; o que faltou foi escancarar a chegada da senilidade. A qual será enfrentada com bravura, bom humor e... muitos copos de vinho, que ninguem é de ferro. À sua saúde !

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