Estou aqui para fazer uma despedida.
Portanto, serei breve.
Nossos grandes escritores estão
morrendo. E todos de uma vez.
Como dizia um colega meu, sergipano,
“Deus quando manda, manda de ruma”.
Comecei a tomar consciência disso quando perdemos o Chico Anysio. Não
sei se os críticos literários o consideram grande escritor ou apenas um
humorista mas, para mim, ele era ambas as coisas. Assisti a alguns espetáculos
dele, inclusive um em Manaus, imaginem, onde a plateia delirou. Por que em
Manaus? Porque ele estava lá e eu também.
Depois veio o... - veio, não, foi-se - o
Millôr Fernandes que não só foi
grande escritor mas também teatrólogo, poeta, caricaturista e,
sobretudo, um grande filósofo. O meu primeiro encontro com Millôr foi uma
piada. Eu estava em Natal, para a inauguração de uma fábrica. Amparados
pela sombra de cajueiros, os convidados
tomavam aperitivo enquanto aguardavam a hora do almoço. Eu me aproximei de uma
mesa onde estavam sentados alguns colegas de trabalho. Um deles não me pareceu
muito familiar, mas me lembrava alguém.
Despejei-lhe um tapão nas costas e disse:
“Nossa! Como você é parecido com o Millor”.
Ele apontou o dedo indicador da mão
direita para o meu nariz, enquanto afagava, com a mão esquerda, a parte
dolorida do ombro, e disse: “Eu sou o
Millor” !
Seguiu-se o João Ubaldo, prematuramente.
Foi difícil de acreditar. Eu me acordava cedo, todos os domingos, só para ler suas
crônicas. Ficou a saudade da Ilha de Itaparica e seus personagens folclóricos.
Agora, Ariano Suassuna. Quem poderia
imaginar! Eu o ouvia, extasiado, quando ele contava suas histórias de
Taperoá ou quando citava Inocêncio Bico Doce para alguma tirada
cômica. Para não falar de suas presepadas do tempo de estudante, como quando foi preso porque estava tomando
banho nu no Rio Capibaribe. Levado à presença do delegado, este passou-lhe uma reprimenda: “Então, o senhor estava
tomando banho nu, não é, seu moleque?” E
Ariano, impávido: “Por que, seu Delegado, o senhor toma banho vestido, é? Uma
vez, quando acabava de lançar seu Movimento Armoral, Ariano mandou chamar três de seus amigos para
uma reunião, talvez a mais curta da história: Francisco Brennand, José Laurênio
de Melo e Gastão de Holanda, que participava, junto com Ariano e
Laurênio, do “Gráfico Amador`”, a valorosa editora artesanal: - “Chamei vocês aqui pra lhes dizer que vocês estão proibidos
de morrer”. E despachou-os.
Sempre achei que os grandes escritores
não morreriam nunca. Descobri que estava
enganado, e me conformo. E só não digo que serei o próximo da fila porque não
quero parecer presunçoso.
Muito bom e, como você, lamento essas perdas. Pena que não dizê-las tão poeticamente...
ResponderExcluirShirley - Novo cruzeiro
Realmente, pessoas dessa espécie deixam lacunas!
ResponderExcluirHahahhahaha preciso te ver logo, meu amigo!
ResponderExcluirQuando Suassuna morreu, eu tinha passado o final de semana anterior mergulhada nos escritos dele e nas palestras no You Tube. "Uma saudade de Suassuna!", pensei antes do fim de semana. Quando a notícia de sua morte chegou, foi mais surpreendente por isso. Era como se tivéssemos passado o fim de semana juntos. rs. Foi um ano difícil, perdas muito especiais.
ResponderExcluir