Acordou cedo. Tinha coisas importantes a fazer, mas não tinha pressa. Deu uma volta pela cozinha, tomou café vagarosamente, pensativo, analisando os obstáculos que encontraria pela frente durante o dia que se afigurava complicado.
Procurou o colaminho. Não o achou no lugar onde o havia deixado. Voltou-se para a mulher:
- Você viu o meu colaminho?
- Não.
- Como, não? Ele não está onde o deixei.
- Você nunca sabe onde deixa as coisas.
- Claro que sei onde deixo as coisas. Você é que mexe nelas e depois não as coloca no lugar.
- Eu não mexo em nada do que é seu. Você sempre esquece onde as coloca e depois vem cobrar de mim.
- Eu me lembro perfeitamente onde coloco coisas. E não aceito essas suas insinuações.
- Que insinuações?
- Você está insinuando que eu estou ficando gagá. E não aceito isso.
- Eu não falei nada. Você está mesmo ficando maluco. Onde já se viu amarrar uma caneta ao pé da mesa?
- Você sabe perfeitamente por que eu amarrei a caneta. Não pára caneta em lugar nenhum nesta casa. Uma vez encontrei oito canetas na tua bolsa.
- Você anda remexendo na minha bolsa?
- Eu só fui procurar uma caneta. Encontrei oito!
- Não grite assim comigo! Você só sabe reclamar. Não sabe onde larga as coisas e põe a culpa em mim!
- Agora quem está gritando é você! Assim não é possível, não agüento mais. Eu tenho que fazer alguma coisa. Onde está o meu colaminho!? Você está arruinando a minha vida! Se você ao menos tivesse a sensibilidade de parar de ciscar nessa cozinha e me ajudasse a procurá-lo. Onde está o meu colaminho? Eu me mato pra fazer tudo direito, ainda se fosse em meu benefício mas não, não, é tudo pra você, pra família, tudo, tudo, eu já não durmo mais direito, não consigo me concentrar, as coisas desaparecem, não se acha nada, nada nesta casa, eu me esforço, não penso noutra coisa, você vai acabar com a minha vida!
Saiu, batendo a porta com violência.
Separaram-se. E foram infelizes para sempre.
Por causa de um colaminho. Francamente!
O que é colaminho? Não vai aparecer nunca, principalmente se ninguém sabe o que é. Gostei, porém, da imagem. Mostra como as pessoas se desentendem por nada.
ResponderExcluirCaro anônimo:
ResponderExcluir"Colaminho é um objeto que não existe. Foi usado justamente para comprovar aquilo que você bem observou: as pessoas se desentendem por nada. Obrigado pelo seu comentário.
Luigi