“Assim como os fatos reais são
esquecidos alguns que nunca
existiram podem estar na
memória como se, de fato,
tivessem sido vividos”
Gabriel Garcia Marques
No hermético texto “Um tigre de Papel” , de Marina Colasanti, um escritor decide completar a decoração de uma sala rococó criando a figura de um tigre. Não quer fazê-lo com palavras mas apenas com seus significados. “Em vez de imitar o terrível miado” - escreve Marina - “faz tilintar os cristais acompanhando suas passadas”. O tigre vai tomando forma “incorporando-se à realidade antes inexistente”, obedecendo ao seu criador “com sedoso cuidado”. Até aqui o delírio se desenvolve com relativa sensatez. Mas, ao pretender levar sua criatura a desempenhar um simples ato cirsense, como subir com as quatro patas sobre um tamborete, o tigre se rebela, apossando-se de sua natureza. Com denodado furor estraçalha tudo, “rosnando por entre as letras”, desobedecendo vírgulas e parênteses, “espalhando no papel cacos de móveis e porcelanas”, dominando o texto. Sobre o qual, com uma patada, coloca o ponto final.
Sem dúvida, Marina Colasanti, com sua história fascinante e ao mesmo tempo blindada, cria uma grande intriga obrigando o leitor a muitas leituras. Cada leitura é uma nova história. Cada história, uma nova aventura.
Tem razão Umberto Eco quando diz: “O texto é uma máquina preguiçosa esperando que o leitor faça a sua parte”.
Eu fiz a minha parte.
Luigi
Luigi, vc sempre faz a sua parte muito bem feita! :)
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