19 abril 2021

E aí Garela, tudo bem ?

E aí Garela, tudo bem ? 

Acoimado que fui nas mídias sociais só porque me recusei a discutir política na forma turbulenta em que ela hoje é feita, em que todos se acham iluminados e detentores exclusivos do segredo do Santo Graal, tive que encontrar alguma coisa que pudesse dar um pouco de alegria a estes rabiscos. Logo agora que entrei no último período do padrão cronológico com que meço o escoamento do tempo que ainda me cabe nesta efêmera existência.

Mas antes de mais nada, quero agradecer ao meu incauto leitor (ou leitores, se tiver mais de um) por ter tido a coragem de abrir esta crônica, apesar do título estapafúrdio que carrega. Ou que, por comiseração, tenha pensado que fui brindado com uma patranha do corretor ortográfico. Nada disso. O título é meu, em toda a sua plenitude, e significa “perdiz que está no cio”. Entretanto, não pretendo usá-lo com essa acepção. Vou explicar.

Todo mundo conhece aquele chinesinho simpático e inteligente que está sempre no YouTube ensinando receitas para curar as   mazelas que nos atacam o corpo e o espírito. E o faz com muita competência. Chama-se Peter Liu, é médico, fala perfeitamente o português brasileiro mas com um sotaque evidentemente chinês. Nos inúmeros vídeos que publica, ele sempre se dirige ao seu público dizendo : “Olá, pessoal, eu sou  Peter Liu etc. . . .” Todavia, em um deles, eu o ouvi dizendo  “ Olá, Garela !, eu sou  Peter Liu, etc . . .

“ Obviamente ele queria dizer  “ Galera “ mas a sua fonética não o permite. É sabido que o chinês troca o R pelo L, e vice-versa. Quem já foi ao mercado da Rua 25 de Março, em São Paulo, sabe disso. E, se você perguntar à chinesinha da loja de eletrodomésticos que está te atendendo se o produto que você escolheu é autêntico, ela dirá: “Não senhor, mas é genélico galantido”.  

Tenho muito apreço pelos Chineses, independentemente do seu sistema político e dos vitupérios de que vêm sendo alvo ultimamente. Tive contato com profissionais chineses do  meu ramo, não tão grande como o dos japoneses mas o suficiente para consolidar minha admiração por eles. Um exemplo simplório disso foi quando, em Natal, eu preparava a implantação da Fábrica de Tecidos Seridó e o Grupo Empresarial me pediu que elaborasse um ante projeto de malharia, que seria oferecido aos chineses. Um grupo de técnicos chineses veio a Natal para discutir o projeto. Dois dias antes, eu havia sofrido uma luxação no tornozelo direito. Doía muito e eu mancava, caminhando com certa dificuldade. Mesmo assim fui à reunião. No final, quando todos se dispersavam, um dos técnicos me abordou e disse :

“ Eu notei que o senhor parece que está machucado.” Relatei o que me havia sucedido. “ Se quiser, gostaria de examiná-lo. Após o jantar irei ao seu quarto.” O técnico, agora médico, virou meu pé pra cá e pra e pra lá, pra cima e pra baixo, apertou aqui e ali, deu dois suspiros e desejou Boa Noite. E eu dormi como um Anjo. No dia seguinte não sentia mais nada.

Eu falo mais sobre os Chineses em outro lugar e em outra época. Está na Crônica nº 85 de 12 de Maio de 2012. Faz um tempinho, hein ?

 

  

 


02 abril 2021

O Ar das Coisas

O ar das Coisas Mas, por que quis eu retirar o ar das coisas ? E que “coisas” eram essas ? A resposta me veio pelo Severino Mandacaru. Foi ele que me admoestou em tempo hábil. Emergindo das brumas do Outono, sua silhueta foi tomando corpo e ele começou seu discurso com uma frase clássica:

“ Seu galego safado, o que você andou aprontando ? Soube que você saiu por aí dizendo que iria “tirar o ar das coisas” sem explicar o que eram as coisas nem o ar. Tá ficando leso, é ?

“ Calma, Severino. Eu apenas estava me dedicando a retirar o ar do ambiente em que vivem algumas coisas, por motivo nobre. Porque, certas coisas, em contato com o ar, oxidam. O ferro, por exemplo, enferruja, o leite, talha e o caldo de cana fermenta. Além disso, eu não estava inventando nada. Eu apenas estava cumprindo ordens do Flamínio. Lembra quando ele disse que eu ia trabalhar ? Ele me explicou : ”

“ Tenho muitos produtos no Bistrô que devem ser consumidos frescos e a melhor maneira de conservá-los é a embalagem a vácuo. E um belo dia chega o Flamínio com uma camionete e despeja uma máquina seladora a vácuo e enormes caixas contendo nozes, amêndoas, avelãns, castanhas, sementes de girassol e uma quantidade enorme de cereais. Agora divirta-se e me avise quando alcançar a eficiência de 90 por cento.”

Assim foi e assim será.

As voltas que o mundo dá ! ! !