Encontrei no Sidarta Gautama o Buda que viveu no Século VI, as palavras de consolo e incentivo de que precisava para sobreviver neste mundo de Pandemonia, sem acento nem endereço, a que fomos submetidos. O confinamento domiciliar, obrigatório para os idosos e desocupados e o “home work”, que resulta na mesma coisa para os que trabalham, bem como a impossibilidade de circulação livre de pessoas, são medidas profiláticas imperiosas para impedir o avanço da Pandemia. Os dados divulgados pelas “otoridades” sanitárias mostram que esta situação vem se agravando a cada dia. Diante desse quadro, as esperanças de um mundo melhor vão se desvanecendo. O relacionamento entre os grupos sociais vai-se deteriorando. As pessoas se tornam apreensivas e sentem medo. Cria-se um clima de desconfiança e ninguém se entende mais.
Para “facilitar” sua vida, o micro empresário
foi convidado a acolher-se a um programa ironicamente denominado “Simples”, que
transferiu para ele todas as tarefas de uma intrincada legislação fiscal que nem
o seu contador consegue acompanhar, inclusive a de provar que não está
roubando. Basta ver o sistema de tributação de sua empresa, criado inicialmente
para isentá-lo de alguns impostos. Só para ver um detalhe, existe coisa mais complicada
(para não dizer inútil) do que um Danfe?
Feita essa digressão, volto ao problema
que nos aflige:
A
Pandmonia, sem acento nem endereço, e seus efeitos deletérios sobre o comportamento
das pessoas em confinamento.
Dizia eu que havia apelado ao Buda Sidarta
à procura de ensinamentos e consolo. Para começar, separei algumas frases do imenso
ideário de santo filósofo.
“Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim.”
“Não se combate ódio com ódio, mas
sim com amor”.
“O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de mágoas forem
alimentados na mente.”
“Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o
coração, dedicar-se a ele.”
SIDARTA
RIBEIRO, neurocientista de carreira internacional, autor de “Limiar”, um
gigantesco livrinho que nos fala de ciência, política, educação, e onde ele
desmascara a hipocrisia com que as leis tratam o “homo sapiens” de nossos dias.
Vejam bem o que ele nos ensina logo de saída:
“Se queremos sobreviver a nós mesmos, precisaremos abandonar
os hábitos paleolíticos de competir em vez de colaborar, acumular em vez de distribuir.
Já passou da hora de um “upgrade” em nosso “software.”
Atualíssimo, Sidarta Ribeiro faz uma longa análise da posição do Brasil no campo cientifico. Na página 38 explica:
“Nos últimos vinte anos, fizemos enormes investimentos em ciência, tecnologia e inovação, mas podemos perder tudo o que foi conquistado se não conseguirmos acompanhar a revolução tecnológica 4.0.” . . . . . . . . . . A desigualdade econômica vem aumentando, a insegurança jurídica impera e a burocracia caprichosa dificulta toda a pesquisa. Nosso sistema está progressivamente sendo desengrenado e corremos o risco de um colapso científico-tecnológico sem precedentes.”
Continuando, Sidarta dá uma demonstração de sua capacidade premonitória ao tratar do Corona Vírus. O trecho é longo, me desculpem, mas vale a pena, ainda mais pela elegância do estilo e beleza da construção literária:
“Fevereiro de 2020, Carnaval em Olinda, Pernambuco. Cerveja, cachaça, e milhares de pessoas subindo e descendo ladeiras, um prodígio de organização espontânea que logra proteger músicos e carros de som do caos turbulento. A multidão enche as ruas, pula, grita e se liberta de tudo o que não é amor. Um povo em gloriosa intimidade consigo mesmo. Minha visão se turva de cores, sons e cheiros. Seria tudo isso uma alucinação? Fecho os olhos e tento vislumbrar o futuro. O que será preciso fazer para deter a explosão planetária do coronavírus? Será o fim de beijos, abraços e convívio? Sobreviveremos a todo esse isolamento? Haverá Carnaval no ano que vem? ”
Já me estendi além
dos meus varais. Haveria muito que aprender com o novo Sidarta mas devo
terminar aqui. Os meus pacientes leitores poderão continuar. Sidarta Ribeiro
foi publicado pela Editora Companhia das Letras.