14 dezembro 2020

Idade Provecta


Perdoem-me se me refiro insistentemente à minha “Idade Provecta”, mas é a única que tenho neste momento. Atenham-se ao sentido lato da palavra e ignorem os superlativos. Para explicar, nada melhor do que um  exemplo extraído dos cafundós da memória.

Quando participei do Blog “Curta Crônicas”, que acabou sendo destruído pelo tempo, tínhamos que colocar um perfil que fosse expressivo mas de poucas palavras. Coloquei uma foto com a cabeça coberta por um chapeuzinho de malandro e escrevi o seguinte:

 “Vaidoso como um pavão, escreve para se exibir. Não acredite nessa foto. Ele é careca.”

 Quanto à Idade Provecta, espero tê-la ainda por muito tempo, diga-se de passagem. Epa ! Eu disse “de passagem”? Credo cruz, pois esta é a última coisa que poderia dizer na vida. Mas que vida? Depois da “passagem” a vida não é mais aqui (Desta, eu tratei, alhures, em “A Pena da Morte”). Eu estou me referindo à vida aqui na terra.

E agora nem sei se continuo, visto que é possível que já esteja morto e nem saiba. Já sei, vou tomar um copo de vinho e ficarei sabendo. “In vino veritas”.  Nem preciso explicar.

 Pois bem, alcançado este estágio nunca imaginei que a maior ocupação que eu viria a ter nestes dias de repouso absoluto fosse  “ Contar mortos ! ” Isso mesmo.         Diariamente, no final do dia, vou em busca do noticiário que divulga o número de almas que a Pandemonia sem acento mandou para o Paraíso. Com estes dados elaboro um gráfico que me poderá indicar o dia em que, mais ou menos, estaremos livres desta penitência.

 Mas até para saber isso a coisa se complica. Os dados estatísticos são divulgados pelo Ministério da Saúde e, simultaneamente, por um consórcio   de veículos de imprensa, que apresentam ligeira divergência entre si. Até aí, tudo bem. É só escolher o que agrada mais ou o valor médio. O que causa espécie é que o número dos falecidos decresce nos fins de semana !  Mas logo encontro a explicação: o “Sistema” entra em repouso nos Sábados e Domingos e não conta os óbitos, os quais serão computados no próximo dia útil. Se for pela fadiga dos funcionários da saúde que estão se arrebentando de trabalhar e arriscando sua vida, é perfeitamente compreensível. Mas se é por causa do “sistema” não faz sentido. Não é possível que o Ministério da Saúde, com toda a tecnologia disponível, não disponha de um “sistema” mais adequado. Aliás, não deveria causar surpresa. O comando dos principais cargos oficiais do ramo tem mudado com tanta frequência e tal rapidez que não fica tempo para a execução dos ajustes. Ademais é preciso reconhecer que assunto da pandemia é realmente complexo. Ouvi uma entrevista na imprensa que se encerrou com uma frase lapidar: “É, esse troço é muito complicado”.

 Digressões à parte, vamos aos fatos ou melhor, aos números. A pandemia instalou-se e começou a produzir casos fatais, inicialmente de forma lenta, mas que foi se acelerando ao longo do primeiro semestre de 2020.

Em meados de Abril estávamos por volta de 200 óbitos diários em todo o país. Esse número foi crescendo até atingirmos 1013 casos fatais, a cada 24 horas no final de Julho. Nesse ponto a curva se estabilizou e, aos poucos, o número  começou  a decrescer alcançando 344 óbitos por dia, nos primeiros dias de Novembro. A felicidade foi geral. Esperava-se que  logo chegaria a vacina e estariam criadas as condições para o controle da Pandemia.

 A alegria durou pouco. A partir daí, os números voltaram a crescer em ritmo acelerado. A média diária de óbitos registrada nas 4 semanas do mês de Novembro foi de 344 - 504 - 481 – 523 e continuou com 576 e 641 em Dezembro.                  

 Dizem as notícias que a população relaxou as medidas de proteção recomendadas pelos órgãos oficiais de saúde. Certamente nossa população é indisciplinada, como é em tantos outros países. Mas em situação de emergência como nas guerras, a população deve receber instruções de conduta, sujeitas a punição em caso de descumprimento.

Instruções temos, até em demasia. Conflitantes, confusas, interesseiras, enigmáticas e muito mais. Entre elas certamente estarão as corretas. Quando as autoridades se entenderem saberemos o que fazer. Enquanto isso, a única coisa segura é ficar em casa. Quem puder. Porque o pobre assalariado tem que enfrentar diariamente o seu ônibus inseguro, enfrentar filas de todo o tipo e deixar as crianças com a vizinha, sem máscara. E a economia . . . Economia? Pergunte aos universitários.

 Por falar nisso, devo dizer que me afastei das mídias sociais, onde eu tentava me manter atualizado e, sempre que eu comentava alguma coisa, qualquer coisa, eu era bombardeado com advertências do tipo “você checou a fonte? Cuidado com Fake News!”  

Incapaz de administrar tamanha complexidade, além do volume despropositado do que circula nas mídias sociais - já ouvi muitos profissionais dizerem que isso é “Máquina de fazer doidos” - decidi abandonar o campo e voltar aos meus métodos convencionais de me manter instruído: A Enciclopédia Barsa e o Tesouro da Juventude. Este último menos, porque quando eu era jovem, ele já andava meio velhinho.

Portanto, não esperem de mim nada fora dos varais. A Barsa sei que todos conhecem. Quanto ao Tesouro da Juventude, perguntem aos Universitários.

 

 

 

4 comentários:

  1. Embora não esteja tão provecta quanto você, concordo com o que dizes.
    O mundo está muito chato!
    E os seres humanos que nele vivem (salvo algumas exceções), também...
    Aliás, o mundo está tão chato justamente por causa dos seres humanos que nele vivem, não é?
    Os pássaros continuam cantando, as flores brotando, os rios correndo para o mar, a chuva chovendo.
    Claro que sempre virá alguém para dizer - ah, mas o aquecimento global, a mudança climática, a poluição... sim, é um fato. Produzido pelo homem chato!
    Um fato que encontra consolo na crônica "E se não houver amanhã" que reproduz o impactante poema "Mas" de Antônio Roberto Fernandes.
    Vale a releitura
    https://memoriasdeumvago.blogspot.com/2015/04/e-se-nao-houver-amanha_10.html

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    1. Obrigado Raquel, pelo seu comentario. De fato, o poema "Mas" soa como uma oracao. Merece ser lido todos OS dias.

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  2. Sábio é aquele que entende a vida observando que é imperativo criar eventos, com um pensamento saúdavel e viver no tempo de Kairós... buscando a oportunidade de aumentar o nosso potencial humano!

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