Perdoem-me se me refiro insistentemente à
minha “Idade Provecta”, mas é a única que tenho neste momento. Atenham-se ao
sentido lato da palavra e ignorem os superlativos. Para explicar, nada melhor
do que um exemplo extraído dos cafundós da
memória.
Quando participei do Blog “Curta Crônicas”,
que acabou sendo destruído pelo tempo, tínhamos que colocar um perfil que fosse
expressivo mas de poucas palavras. Coloquei uma foto com a cabeça coberta por
um chapeuzinho de malandro e escrevi o seguinte:
“Vaidoso como um pavão, escreve para se
exibir. Não acredite nessa foto. Ele é careca.”
Quanto à Idade Provecta, espero tê-la
ainda por muito tempo, diga-se de passagem. Epa ! Eu disse “de passagem”? Credo
cruz, pois esta é a última coisa que poderia dizer na vida. Mas que vida?
Depois da “passagem” a vida não é mais aqui (Desta, eu tratei, alhures, em “A
Pena da Morte”). Eu estou me referindo à vida aqui na terra.
E agora nem sei se continuo, visto que é possível
que já esteja morto e nem saiba. Já sei, vou tomar um copo de vinho e ficarei
sabendo. “In vino veritas”. Nem preciso
explicar.
Pois bem, alcançado este estágio nunca
imaginei que a maior ocupação que eu viria a ter nestes dias de repouso
absoluto fosse “ Contar mortos ! ” Isso mesmo. Diariamente, no final do dia, vou em busca
do noticiário que divulga o número de almas que a Pandemonia sem acento mandou
para o Paraíso. Com estes dados elaboro um gráfico que me poderá indicar o dia
em que, mais ou menos, estaremos livres desta penitência.
Mas
até para saber isso a coisa se complica. Os dados estatísticos são divulgados
pelo Ministério da Saúde e, simultaneamente, por um consórcio de veículos
de imprensa, que apresentam ligeira divergência entre si. Até aí, tudo bem. É só
escolher o que agrada mais ou o valor médio. O que causa espécie é que o número
dos falecidos decresce nos fins de semana ! Mas logo encontro a explicação: o “Sistema”
entra em repouso nos Sábados e Domingos e não conta os óbitos, os quais serão computados
no próximo dia útil. Se for pela fadiga dos funcionários da saúde que estão se
arrebentando de trabalhar e arriscando sua vida, é perfeitamente compreensível.
Mas se é por causa do “sistema” não faz sentido. Não é possível que o Ministério
da Saúde, com toda a tecnologia disponível, não disponha de um “sistema” mais
adequado. Aliás, não deveria causar surpresa. O comando dos principais cargos
oficiais do ramo tem mudado com tanta frequência e tal rapidez que não fica
tempo para a execução dos ajustes. Ademais é preciso reconhecer que assunto da
pandemia é realmente complexo. Ouvi uma entrevista na imprensa que se encerrou
com uma frase lapidar: “É, esse troço é muito complicado”.
Digressões à parte, vamos aos fatos ou
melhor, aos números. A pandemia instalou-se e começou a produzir casos fatais, inicialmente
de forma lenta, mas que foi se acelerando ao longo do primeiro semestre de
2020.
Em meados de Abril estávamos por volta de
200 óbitos diários em todo o país. Esse número foi crescendo até atingirmos 1013
casos fatais, a cada 24 horas no final de Julho. Nesse ponto a curva se estabilizou
e, aos poucos, o número começou a decrescer alcançando 344 óbitos por dia, nos
primeiros dias de Novembro. A felicidade foi geral. Esperava-se que logo chegaria a vacina e estariam criadas as condições
para o controle da Pandemia.
A alegria durou pouco. A partir daí, os
números voltaram a crescer em ritmo acelerado. A média diária de óbitos registrada
nas 4 semanas do mês de Novembro foi de 344 - 504 - 481 – 523 e continuou com
576 e 641 em Dezembro.
Dizem as notícias que a população relaxou
as medidas de proteção recomendadas pelos órgãos oficiais de saúde. Certamente nossa
população é indisciplinada, como é em tantos outros países. Mas em situação de emergência
como nas guerras, a população deve receber instruções de conduta, sujeitas a punição
em caso de descumprimento.
Instruções temos, até em demasia.
Conflitantes, confusas, interesseiras, enigmáticas e muito mais. Entre elas certamente
estarão as corretas. Quando as autoridades se entenderem saberemos o que fazer.
Enquanto isso, a única coisa segura é ficar em casa. Quem puder. Porque o pobre
assalariado tem que enfrentar diariamente o seu ônibus inseguro, enfrentar
filas de todo o tipo e deixar as crianças com a vizinha, sem máscara. E a
economia . . . Economia? Pergunte aos universitários.
Por falar nisso, devo dizer que me afastei
das mídias sociais, onde eu tentava me manter atualizado e, sempre que eu comentava
alguma coisa, qualquer coisa, eu era bombardeado com advertências do tipo “você
checou a fonte? Cuidado com Fake News!”
Incapaz de administrar tamanha
complexidade, além do volume despropositado do que circula nas mídias sociais -
já ouvi muitos profissionais dizerem que isso é “Máquina de fazer doidos” - decidi
abandonar o campo e voltar aos meus métodos convencionais de me manter instruído:
A Enciclopédia Barsa e o Tesouro da Juventude. Este último menos, porque quando
eu era jovem, ele já andava meio velhinho.
Portanto, não esperem de mim nada fora dos
varais. A Barsa sei que todos conhecem. Quanto ao Tesouro da Juventude,
perguntem aos Universitários.