Fazia
tempo que eu não via o Severino Mandacaru. Depois, soube que ele havia
embarcado. Achei estranho que viajasse assim, sem deixar palavra.
Tendo
que ir ao Recife por alguns dias, resolvi procura-lo. Estava em Caruaru,
voltando não sei de onde. Marquei com ele um encontro para comer umas tapiocas
e trocarmos amarguras.
-- Então, Severino, que diabo você anda fazendo metido nesses sertões?
-- Você não sabe? Estou voltando de um lugar mágico. Uma cidadezinha do
interior, contida em si mesma, altaneira, ignorada pela Coorte. Está dando um
exemplo ao País em matéria de cultura e educação...
-- Não imagino qual seja. Tenho notado que Pernambuco está dando exemplos em matéria
de turismo e no desenvolvimento industrial e...
É
Quixaba, em pleno Sertão do Pajeú. Foi destaque no noticiário nacional por
conta de suas escolas e agora seus alunos estão vencendo maratonas intelectuais
em todo lugar do mundo.
--
Era lá que você estava este tempo todo?
--
Só um par de dias. É uma cidade pequena com seis mil e oitocentos habitantes
comandados por um prefeito sereno e competente. Conta com três escolas
estaduais de ensino fundamental e médio. Conta ainda com uma escola municipal
que, como as outras, mereceu muitos destaques.
A
Escola Tomé Francisco da Silva, no Distrito de
Lagoa da Cruz, conquistou, durante quatro anos consecutivos, o primeiro
lugar em todo o Estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB,
obtendo notas que superaram as metas estabelecidas pela Secretaria Estadual de
Educação. Em 2012 concorreu em nível nacional ao Prêmio Gestão Escolar e
conquistou o primeiro lugar recebendo, por
isso, o título de “ESCOLA
REFERÊNCIA BRASIL”.
“Não
fazemos apenas diferente. Fazemos com muita paixão” diz Ivan Nunes,
seu gestor.
Visitei
a Escola num dia de aula normal como qualquer outro. Quando se entra, a impressão
que se tem é de que ali está se realizando uma grande festa. Tudo tem
movimento. Nada é estático. As folhas das plantas se agitam no jardim bem
cuidado e os livros parecem cantar. A alegria vibra e contamina o visitante. As
paredes estão cobertas de cartazes coloridos incentivando à leitura, ao estudo,
à dedicação, à solidariedade, ao amor. Não há espaços vazios. O semblante dos
alunos, normalmente carrancudo em qualquer escola, ali resplandece refletindo
alegria e felicidade.
Na
Escola Solidônio Pereira de Carvalho, bem como na Escola Veríssima D’Arc e
ainda na Escola Municipal São Miguel, no Sítio Gato, o ambiente é o mesmo: o
entusiasmo, a competência e a dedicação se fazem presentes nos menores detalhes. O
resultado se vê na expressão de alunos e professores.
Na
Escola Solidônio Pereira tive a oportunidade de participar de um evento que
estava em curso quando cheguei: Uma espécie de “Café Literário” no qual
interagiam professores e alunos lendo e discutindo literatura num ambiente
alegre e descontraído.
-- Pois é, meu caro Severino. E a gente ainda
acha que conhece o Brasil.
-- Nessa
Escola também conheci uma senhorinha que, aos dezoito anos, foi nomeada
a primeira professora de Quixaba. Na cidade ela é considerada a “pedra
fundamental” de tudo isso. Casou-se com um galego com o qual aprendeu culinária
italiana. Parece que faz sucesso lá no teu Rio de Janeiro.
-- A é? E ele, o que faz?
-- Ele faz tapioca e bolo de macaxeira.
-- Êta mundo bom!
-- Mas você não sabe da melhor, galego: Quixaba
tem índice zero de dengue. Absolutamente zero.
-- Acredito.
-- E você não me pergunta como conseguiram isso?
-- Devem ter matado os mosquitos de tanto rir!
-- Teve uma Secretária Municipal de Saúde que
ocupou o cargo durante 16 anos. Quando chegou a dengue ela encheu uma bacia de larvas do mosquito e colocou-a
na mesa do Prefeito, dizendo: - "Olhe isto! Temos que fazer alguma coisa”. O Prefeito respondeu
de imediato: - “Pois faça logo!”
Aí
descobriram que a piaba, o inocente peixinho que os matutos comem frito, era um
valente devorador de mosquitos. Então encheram lagoas e riachos de piabas e
proibiram a sua fritura. E nunca mais tiveram casos de dengue.
--
Fantástico, Severino. Preservaram uma espécie ameaçada e livraram a população
do dengue. Posso dizer então que a piaba é o “animal sagrado” da região?
-- Como você disse, galego, este mundo é bom.
Quando se sabe e se quer fazê-lo.
Linda homenagem!!
ResponderExcluir