“A televisão é o ópio do povo”
Severino Mandacaru
Algum tempo atrás atribui essa frase a Karl Marx. Apresso-me a corrigir o engodo. Na crônica de mesmo nome, postada em 23 de Setembro passado, eu me propunha comentar os danos que a televisão de má qualidade causa às nossas crianças e adolescentes, para não falar dos pobres matutos das zonas rurais agora também com fácil acesso a esse prodígio da tecnologia.
Acontece que me enrosquei no cipoal das idéias e comecei a falar de crises financeiras, do uso doentio do crédito bancário como responsável pela crise do capitalismo moderno e outros atrevimentos. Nem sequer toquei no problema da televisão e terminei a crônica com estas palavras: “Mas eu ia falar da televisão e a rima me atrapalhou. Não faz mal, fico devendo. Como nas moratórias.”
Fiquei devendo, mas nunca paguei. E não me arrependo, pois volto agora ao tema, consciente de que se tratava de uma tarefa acima das minhas forças. Porque Luis Fernando Veríssimo, na sua crônica “A arma”, publicada no dia 20 deste mês, com a maestria de sempre e sua notável capacidade de síntese, abarcou o assunto em poucas linhas:
“Nessa discussão sobre baixarias na TV e a má qualidade generalizada do que vai ao ar, ninguém se lembra que toda casa brasileira” .... “ tem uma arma eficaz de autodefesa” .... “ o nome da arma é controle remoto.”
Veríssimo explica que o controle remoto é a ferramenta que nos permite exercer o livre arbítrio para defendermo-nos das agressões. “De procurar uma alternativa, outro canal, ou o silêncio. Em vez de dizer “isto deveria ser proibido” e incentivar, indiretamente, a censura, e negar o direito dos outros de gostarem de porcaria, deveríamos exercer, soberanamente, a liberdade de escolha do nosso dedão”.
Creio que divulgando os conselhos do Veríssimo cumpri a minha promessa. Sozinho eu não teria conseguido.
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