Ópio, cocaína, heroína, maconha, crack, cola de sapateiro. Não conheço a lista completa das drogas letais que assolam a humanidade. Mas, por que a sociedade ainda não resolveu legalizá-las? Acabaria com a rede criminosa do tráfico que, em alguns lugares, constitui um poder paralelo muito mais forte do que o poder do governo. Alega-se que a liberação das drogas levaria a um consumo exacerbado, o que resultaria na morte de inocentes. Que inocentes? Os que hoje são assassinados pelas balas perdidas disparadas pelos próprios traficantes?
Não tenho preparo necessário para discutir a questão das drogas. Intelectuais de todo o mundo têm debatido o problema e, pelo que vejo, sem grande resultado. O que eu quero mostrar é que existe uma droga, perfeitamente legal, com a qual, até agora ninguém se preocupou: o crédito bancário. Ela não mata nem agride o corpo físico mas desarranja toda a sociedade afetando principalmente as classes mais pobres, mais vulneráveis à ação dos traficantes. Claro que é preciso distinguir entre o crédito à produção e o crédito ao consumidor, e é deste que estamos falando. Através de cartões de crédito, carnês, cheques pré-datados empréstimos bancários, notas promissórias, “caderneta” da quitanda, e fios de bigode, as pessoas vão comendo aquilo que ainda não produziram.
Porque, quando alguém recebe, por antecipação, alguma coisa, com a promessa de que irá devolvê-la (pagá-la) mais tarde, com o fruto do seu trabalho, está, na realidade, consumindo aquilo que ainda não produziu. Com um agravante. Ela terá que pagar uma remuneração por esse “favor” : os juros. Os juros são um bem metafísico que não tem contrapartida no sistema produtivo e, portanto, engrossa o déficit dos bens a serem pagos a futuro. Isso é possível porque, entre os humanos civilizados, bens e serviços são representados por pedaços de papel de curso legal, ou por números armazenados em servidores de computador, protegidos por uma parafernália de back-ups. E que deus nos livre de um dia isso estourar.
Comprar a crédito vicia, como vicia qualquer droga. E quem são os traficantes dessa nova droga? Alguém invisível, representado por marionetes escondidos atrás de um telefone, com quem você discute, negocia e implora para defender-se do ataque, isto é, quando você ainda não está viciado. Quem não gastou horas ao telefone, esgotou a paciência, perdeu a calma, tentando livrar-se daqueles malditos cartões de crédito que ninguém pediu e mal se sabe quem enviou? Quem não gastou tempo explicando pacientemente que não precisa daquela generosidade tipo “aproveite, seu limite de crédito foi aumentado”? Quem não desperdiçou energias pendurado num telefone explicando a uma múmia escondida não se sabe onde, tentando obter o estorno de uma tarifa cobrada por um serviço que nunca pediu nem utilizou?
Tome cuidado. Essa droga não mata. Mas esfola.
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