Provavelmente quem leu a história da viagem ao aeroporto de Fortaleza com o Aldenor, e acreditou nela, achou que eu tive alguma participação naqueles acontecimentos bizarros. Engana-se. Porque, duas semanas depois o Aldenor veio ao Recife para dar continuidade ao nosso trabalho e hospedou-se em um hotelzinho de periferia, no lugar do Grande Hotel onde sempre ficava. No fim do último dia de trabalho eu o acompanhei até o hotel, onde ficamos tomando uma cerveja, na esperança de encontrar soluções para os problemas do sub-desenvolvimento do Nordeste. Quando saí, a lua apareceu , sorrindo. Sua imagem refletida no Cais do Apolo era entorpecente. Impossível ir para casa. Fiquei perambulando pelas pontes, contemplando as sombras dos edifícios refletidas na maré alta. A cidade ficou deserta. Decidido a ir para casa tomei o caminho da Ponte Buarque de Macedo.
Como um fantasma, caminhando lentamente, aparece o Aldenor, todo sorrisos.
-- Beduino, finalmente te encontrei!
-- O que houve, Aldenor, você não disse que ia dormir?
-- Perdi a carteira, os documentos, tudo. Não sei como pagar o hotel, não tenho dinheiro nem para o taxi. Você me arranja algum trocado?
-- Claro, mas o que é que você veio fazer aqui? Como ia me achar? Eu já devia estar em casa há muito tempo.
Aldenor baixou os olhos, colocou as mãos sobre meus ombros, e sussurrou:
-- Eu sabia que ia te encontrar!
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