CAPÍTULO 3
Como expliquei, meu primeiro emprego foi-me oferecido pela Escola onde me formara, a ETIQT.
A
carteira profissional indicava:
1 - “Empregador: Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional – Departamento Nacional - Rio de Janeiro – Distrito Federal. Espécie de estabelecimento: Ensino industrial.Natureza do cargo: Assistente de Professor de Fiação. Data de admissão:
1 de Maio de 1952.
Data de saída: 2 de Fevereiro de 1954.
Na minha função de professor assistente eu dispunha de uma sala, no galpão da fiação, dotada de aparelhos para controle de qualidade e ensaios diversos, inclusive com uma câmara escura, o que permitia revelar microfotografias de fibras sintéticas que estavam pipocando naquela época. Dessa forma, eu podia manter os meus alunos atualizados.
Eu estava feliz com meu trabalho e posso dizer que sempre contei com a simpatia e o reconhecimento dos meus alunos, agora já meus colegas de trabalho. Afinal, estávamos formando a segunda turma da ETIQT.
Nessa altura, com toda essa satisfação e apesar do salário compensador que recebia, fiz uma reflexão: estou ensinando aos alunos tudo aquilo que aprendi na escola. Nunca lidei com as máquinas, nem com os processos, nem com os operários . Não conheço o “chão de fábrica”.
Pedi
demissão, E fui trabalhar numa fábrica desconhecida, situada na Estrada do
Morro do Ar, 43 em Santa Cruz, Rio de Janeiro.
2 - Fábrica Itatiaia de Tecidos
Data de admissão: 1 de Março de 1954
Data de saída: 11 de Fevereiro de 1955. Era uma fábrica de tecidos crus de algodão, para sacaria.
Aprendi
muito, mas percebi que ali não teria futuro.
Meu sonho era a fábrica Bangu. Eu tinha colegas que trabalhavam lá.
Recebi um convite para ocupar o lugar de gerente da fiação, mas era no turno da noite. Aceitei, seria uma experiência nova. Trabalhar na fabricação do fio 100, na produção do organdi exportado para a França, onde seria usado nos desfiles de moda. Isso me entusiasmava.
3 - Companhia Progresso Industrial do Brasil – Fábrica Bangu.
Data de admissão: 1 de Março de 1955.
Data de saída: 30 de Abril de 1956.
4 - Cia. Fábrica Yolanda de Tecidos SA.
Data
de admissão: 1 de Setembro de 1956
Data
de saída: 21 de Fevereiro de 1958
A Fábrica Yolanda foi uma experiência única para trabalhar com fibras vegetais que não fosse o algodão. Trabalhávamos com juta e caroá. O caroá é um agave nativo do Nordeste. Produzíamos sacos para exportação de açúcar demerara e cordoalhas.
Neste ponto cabe uma explicação. Em Janeiro de 58 recebi a visita de um empresário baiano que me propôs assumir a gerência geral de uma fábrica de tecidos em Teresina PI, que estava acéfala. Aceitei e embarquei. A primeira coisa que eu soube, ainda no hotel, foi que o gerente anterior havia sido assaltado pelos operários, vindo a falecer. O chefe do escritório é quem conduzia os trabalhos sem nenhuma experiência de trabalho industrial. Tratando os operários com muito carinho e sem punições, consegui criar um estabelecimento fabril harmonioso e eficiente. Mas o trabalho era desgastante. Eu chegava na fábrica as 6 horas da manhã e saia as 10 da noite. Eu me sentia frustrado com a indústria têxtil. Aguentei um ano. Pedi demissão e desci de ônibus pela costa, visitando os empresários têxteis a procura de emprego. Nada. Eu estava descoroçoado,
Cheguei em casa, juntei todos os livros técnicos que tinha e fiz uma montanha no meio da sala. “ Amanhã faço uma grande fogueira “. E fui dormir.
No
dia seguinte refleti. Guardei os livros, comprei o jornal e comecei a procurar
emprego.