Você está rindo de mim?
Pode
rir. Eu também rio. Mas não rio de você. Eu rio de mim mesmo. Se queremos viver
com bom humor temos que aprender a rir de nós mesmos. Os ingleses ficaram
mestres nisso. Lembre-se do “ sense of humor ” dos britânicos. Disso dei
provas, poucas linhas atrás, quando escrevi o meu epitáfio : “ Aqui jaz o bobão
que um dia . . . e bobão ele era. Porque
morto já estava e não sabia “
E
as piadas? Foram feitas para rir. Eu comecei a decorar piadas e não me faltaram
amigos para alimentar-me de material. Desde as mais inocentes até as cabeludas.
Sobre carecas.
Para
começar procurei a mais curta que eu conhecia.
-
Você conhece a piada do pinto russo ?
-
Pioff . . . Pioff . . . Pioff . . .
A
próxima, mais curta:
No
pátio de recreio de um asilo de loucos.
-
Quem és tu, meu filho ?
-
Napoleão.
-
Quem ?
-
Napoleão Bonaparte.
-
Quem te disse isso ?
-
Jesus Cristo.
-
Eu ??? !
Eu
ria muito. O tempo todo. E isso não ficou impune pois me levou a cometer gafes.
Numa delas eu chorei. Quando eu frequentava as aulas na Oficina da Crônica, do
Felipe Pena, ainda no Rio, tinha uma colega muito inteligente e que escrevia
muito bem. Nós nos reuníamos para criticar o que escrevíamos. Um dia ela me
disse: “Gostei muito da sua última crônica. Tem um ar assim . . . de Gabriel
Garcia Marques.” Senti-me lisonjeado e
pensei logo em dizer algo que me mostrasse minimamente competente para
conversar com ela. Em uma palavra, resolvi mostrar erudição. E mandei:
“Ohh!
sim, Gabriel Garcia Marques, prêmio Nobel de literatura, escreveu Cem Anos de Solidão,
amigo do Presidente da Colômbia
Belisario
Betancur, que aliás, também era poeta mas não era um presidente poeta, era um
poeta que havia se tornado Presidente e que, quando criança, menino traquinas
que era, em uma sala de aula, enquanto esperavam e chegada do professor, foi ao
quadro negro e escreveu:”
“Senhor,
Senhor te rogamos
Y
rogaremos sin fin
Que
mandes rayos de mierda
En
el Professor de latin””
Foi
expulso da Escola e eu, . . . blablabla . . . blablabla . . . eu não parava . . .
Olhei
para a minha colega para ver o efeito de tamanha erudição. Ela estava muda e
olhava o infinito.
“Meu
pai era Professor de Latim.”
E
eu tive vontade de me jogar pela janela.
Não
me lembro quanto tempo ruminei a minha dor e a vergonha que passei até que voltasse
a rir. Creio que o confinamento doméstico, determinado por essa Pandemônia aviltante,
escondido atrás de uma máscara, me ajudou a encarar o olhar das pessoas.
Pois
voltemos aos nossos risos e vamos falar sério já que agora chegou o Dr. Daniel
Martins de Barros, Psiquiatra, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP, em página inteira de um jornal local, nos diz
o seguinte :
“O RISO NÃO É UMA PÍLULA MÁGICA,
MAS TRAZ UM BOM ALÍVIO”
Numa entrevista concedida à Jornalista Constança
Tatsch, o Dr. Daniel discorre amplamente sobre o tema. A primeira pergunta foi
a seguinte: “O que é o riso” ? A resposta :
“ O riso é reflexo da história pessoal e também da
humanidade, é uma forma de comunicação que a seleção natural imprimiu, um sinal
de que está tudo bem. É uma expressão que ao mesmo tempo revela algo sobre nós,
comunica e modula o comportamento do outro. As emoções em geral são assim, o choro
também é um sinal do que você está sentindo e que interfere no comportamento do
outro “
Gostou ?
E agora, você ainda está rindo de mim? Ria, ria
muito. Vamos rir juntos. Vamos criar uma
sinergia tão grande que nos fará mergulhar no espaço sideral, que eterno dura,
onde iremos encontrar vida mais pura.
O que? Você está rindo disto? Ria à vontade. Estou só
ouvindo.