Venho insistindo que a Pandemonia, sem acento nem endereço, provocou importantes alterações no comportamento humano. O confinamento das pessoas devido ao risco de contàgio por Covid, exacerbou o comportamento das pessoas não só entre amigos e conhecidos mas, também, dentro da própria família. E começaram a se agravar os sintomas de depressão, ansiedade, estresse, medo, angústia, insônia, ciúmes, sem falar na contribuição que um psicólogo poderia acrescentar a essa lista.
Encontrei, na forma de um poema, um verdadeiro hino à esperança. Foi escrito por Antonio Roberto Fernandes, um modesto poeta do interior, Ele me deu a certeza de que eu terei um motivo para acordar no dia seguinte.
Mas
Antonio Roberto Fernandes
E
eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilh
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
Mas brilha.
E achei que nenhum pássaro cantasse
se
um lavrador não mais colhe o que planta,
se
uma família vai dormir sem janta
com
um soluço preso na garganta.
Mas canta.
Também pensei que a chuva não regasse
folha cujo leite queima e cega
a carnívora flor que o cego inseto pega
ou o espinho oculto na macega,
Mas rega.
Pensei também que o orvalho não beijasse
a venenosa cobra que rasteja
no silêncio da noite sertaneja
sobre a ruína de esquecida igreja,
Mas beija.
Imaginei que a água não lavasse
o chicote que em sangue se deprava
quando, de forma monstruosa e brava,
abre trilhas de dor na carne escrava
Mas lava.
Apostei que nenhuma borboleta
por ser um vivo exemplo de esperança
dançaria
contente, leve e mansa
sobre
o túmulo em flor de uma criança,
Mas
dança.
Por isso achei que eu não mais fizesse
poema algum após tanto embaraço,
tanta decepção, tanto cansaço
e tanta espera, em vão, por teu abraço,
Mas faço.