16 fevereiro 2021

A Mansão no Paraiso

 

 “ É preciso mudar para que tudo fique como está.” 

Esta declaração foi feita por Giovanni Tommaso, conde de Lampedusa, na obra  “ Il Gattopardo ”, onde ele narra a decadência da aristocracia italiana e a luta de Garibaldi pela unificação da Italia.

Se você não mudar, você não permanece o mesmo, você regride, pois tudo à sua volta estará progredindo, inclusive a Pandemonia, essa praga inclemente que nos mantém entre quatro paredes, perambulando como almas penadas. E assim vamos levando, alimentados por comida que nos chega no lombo de uma motocicleta, e remédios entregues pelo correio. No Banco, ninguém pisa mais e o dinheiro circula nas telas do celular. Pagamos contas e fazemos consultas médicas com os APPs ou Tizapps, e trocamos informações  através das mídias sociais, esse prodígio tecnológico que tanto nos pode elevar intelectualmente como imbecilizar pela resto da vida. E cuidado que, como qualquer goiaba bichada, elas chegarão com seus hequers, feique níus e a alma do capeta disfarçada em querubim alado. Cuidado ainda maior com os algoritmos programados para determinar como vai ser o teu futuro, bagunçar o teu presente e escarafunchar o teu passado.

Portanto, como aconselhou o Conde de Lampedusa, estou mudando. Fiz uma visita ao meu bambuzal no Solar do Cônego, onde passei tantos anos cuidando dos meus gambás, jacus, saíras e micos, e contemplando o Chapéu da Bruxa. Ao longe, a  Montanha de Narayama impunha sua majestade  sobre o vale, esperando novas visitas. Os deuses, me olhavam de soslaio. Eu disfarçava e fingia contemplar a neblina.

E assim voltei ao meu Castelo, com seus ditosos 40 metros quadrados. Uma coisa porém, havia mudado: as pernas que me sustentam não são mais as mesmas. O centro de gravidade perdeu seu prumo. O equilíbrio é incerto. Deslocar-se é uma aventura.

Foi quando meu filho me convidou para uma caminhada, Como ele me acompanhava, aceitei de bom grado. A poucos metros do Castelo, bem próximo do Bistrô Primavera, entramos por uma vereda arborizada e bem pavimentada. Andamos durante cinco minutos até chegarmos a um imenso jardim florido. Nele, três bucólicos chalés, distantes entre si, pareciam formar a ante sala do Paraíso. Num deles, um portal em arco era coroado por um bouganville lilás. Parando na frente, meu filho decretou:

“Aqui está sua nova residência”

E foi assim que eu me mudei para a Mansão no Paraíso.