O Natal chegou. É preciso comemorar. O trânsito já está
confuso. Gente apressada correndo de um lado para outro. Comprar presentes,
visitar amigos e parentes que ficaram esquecidos o ano inteiro, reservar ceias
em restaurantes lotados, levar as crianças ao shopping para tirar fotos no colo
do Papai Noel, “aquele barbudo embalsamado dentro de um macacão vermelho”, como diria o Severino
Mandacaru. E isto a quarenta graus
celsius. Credus! A televisão nos incita e nos
deixa com sentimento de culpa. Como, ... você não vai festejar?
Vou festejar sim, e quero ter minha família e meus amigos
comigo. Mas, este ano, quero uma festa diferente. Quando, ao descer a serra,
vejo aquela neve de algodão flutuando sobre galhos de pinheiro que nunca vi, ao
sol de quarenta graus, aquele gorducho com olhar desapontado porque não encontra em mim o deslumbramento
consumista que faria a alegria do seu patrocinador, sinto-me encurralado. Nada
tenho contra os festejos do Natal tradicional, enlatado, com seus panettones,
seus vinhos espumantes e seus perus recheados. Mas este Natal quero que seja
diferente: quero festeja-lo com um bolo tropical que adaptarei de um doce muito conhecido no Nordeste, feito
de massa puba.
E darei ao meu Natal a cor verde do mar do Cabo de Santo Agostinho,
o vermelho do pôr de sol no Rio São Francisco e o prateado da lua refletida no
Cais do Apolo. E quero compartilhar com meus amigos e meus incautos leitores o
conceito de Natal proposto pelo meu amigo poeta Wanderlino Teixeira Netto:
“NOEL TROPICAL”
Wanderlino Teixeira Netto
“Enfeitarei com bolas de bexiga meu pé de angico
plantado lá no fundo do quintal.
Não virá, neste Natal, Noel, aquele tal:
gordo, patusco, bem nutrido .
O que há de vir é nanico, endividado, sofrido,
sem gorro na cabeça chata,
de bermuda, camiseta e alpercata.
Em vez da alva barba, a boca em caco
e um balaio, não o saco.
Haverá Sol em lugar da neve de algodão
e os sinos não badalarão neste Natal:
os sons serão de berimbau!
Nada de castanhas, nozes,
avelãs e vinhos de outros cais,
apenas aguardente e
frutos tropicais!”
Vejam só: Noel virá de
jegue, não de trenó!
Até nem será Noel quem
virá neste Natal,
mas Severino e Ribamar, e
Juvenal e Zé...
que hão de dispensar a
sorrateira chaminé!”