16 março 2021

Dever de casa : Contar os Mortos

Dever de Casa:contar os mortosrtos 

Nunca imaginei que atingida a idade provecta em que me encontro eu tivesse que me incumbir de semelhante missão. Isso mesmo : contar quantos cadáveres foram produzidos pela Pandemonia sem acento nem endereço. Na semana que vai do dia  6 ao dia 13 de Março de 2020 foram abatidas 12.954 almas pelo Coronavirus, o que dá um valor médio de 1.850 mortos por dia neste país. Para termos uma ideia do que esta cifra significa, reporto-me ao dia em que comecei a anotar os números desta dança macabra. Em meados do mês de Abril andávamos por volta dos 150 óbitos por dia.

 A curva foi crescendo rapidamente até chegar a um ápice de 1.038 em 30 de Junho. Daí, por força divina ou pelo bom comportamento de nossas almas, a curva despencou e chegou  a 344 casos, medidos pela media semanal, em 7 de Novembro de 2020. Alegria geral em toda a nação. Vamos comemorar. Tragam cerveja e carne ! O Natal vem aí. E o Ano Novo ? E o Carnaval ? Está tão perto ! Sim, o Carnaval está perto . . . Mais uma vez tenho a satisfação e o orgulho de citar Sidarta, o Araujo, pela sua visão profética sobre o que iria acontecer com a nossa Pandemonia ao descrever o Carnaval de Olinda, em Pernambuco:

“Fevereiro de 2020, Carnaval em Olinda, Pernambuco. Cerveja, cachaça, e milhares de pessoas subindo e descendo ladeiras, um prodígio de organização espontânea que logra proteger músicos e carros de som do caos turbulento. A multidão enche as ruas, pula, grita e se liberta de tudo o que não é amor. Um povo em gloriosa intimidade consigo mesmo. Minha visão se turva de cores, sons e cheiros. Seria tudo isso uma alucinação?  Fecho os olhos e tento vislumbrar o futuro. O que será preciso fazer para deter a explosão planetária  do coronavírus ? Será o fim de beijos, abraços e convívio? Sobreviveremos a todo esse isolamento? Haverá Carnaval no ano que vem ? Escuto com nitidez a voz de Caetano Veloso: - Não se esqueça de mim/Não desapareça ”

Em 14 de Fevereiro de 2021 a média semanal já havia alcançado 1.079 óbitos. Em de 13 de Março saltou para 1.850. Ou seja um aumento de 70 por cento em apenas um mês ! Para onde vamos ? O que devemos fazer ?  Quem nos orienta ?

Orientação é o que não falta. Cada autoridade diz uma coisa e todas elas brigam entre si. A economia, sufocada pela Pandemonia, está em frangalhos e esses frangalhos são administrados por outros frangalhos, todos raivosos, em permanente conflito. Dos legisladores não vou falar, por falta de competência. E antes de ir embora apresento minhas escusas:  absit injuria verbis, data vênia”, não é, Senhor Todo Mundo ?

 

 


 

 

4 comentários:

  1. O Gráfico é de produção doméstica.
    Fontes: 1- Ministério da Saúde
    2- Consórcio de Veiculos de Impressão

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  2. Isso sem falar nas variantes...
    Pandemonia sem acento é a melhor definição...

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  3. Nossa Tio, disse tudo! Eu que estou dentro e vi com meus olhos e senti com o coração o sofrimento e a morte solitária que o corona nos trouxe. Hoje , um ano exatamente que tudo começou , revivo a dor e a desesperança do povo, a fila no pronto socorro para a internação e os meus colegas de frente lutando contra mais uma variante que chegou!

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  4. Obrigado Ana, teu comentario é oportuno. Foi doloroso tratar de um assunto tão macabro em todos os sentidos. Mas acho que valeu, sobretudo pela citação do Sidarta e seus poderes premonitórios ao descrever o Carnaval de Olinda.

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