26 abril 2023

CARTA AOS MEUS AMIGOS

 Decidi interromper a série de crônicas que havia denominado de “CAPÍTULOS”. Tratavam da minha carreira profissional, onde eu me pavoneava em elogios ao meu trabalho. A próxima seria a Fábrica de Tecidos Seridó que projetei para a União de Empresas Brasileiras, a qual  se associou à japonesa Shikibo e construíram a Fábrica, que eu administrei durante vários anos. Eram crônicas enfadonhas e de interesse pessoal.

Por isso resolvi escrever esta “CARTA AOS MEUS AMIGOS” e a quem mais interessar possa.

Vou retroceder no tempo :

De 1944 e 1948, morando em Pernambuco, eu fiz o curso Industrial Básico na Escola Técnica do Recife, uma escola da rede federal, situada no Derbi, um bairro residencial elegante. O prédio da escola ficava na margem do Rio Capibaribe, uma vista encantadora, com sua correnteza impetuosa ilustrada pelas cores desastradas do pôr de sol. A escola dispunha de um alojamento muito confortável. O regime era severo: pela manhã educação física, café com mungunzá que a gente apelidou de chá de burro.

No período da manhã, aulas teóricas, à tarde aulas práticas nas oficinas: tornos mecânicos, fresas, plainas e furadeiras. À noite, após o jantar, estudo dirigido, acompanhado por um professor assistente.

Junto ao prédio da escola tínhamos três vizinhos importantes. Um era o Hospital-Maternidade. Do meu quarto, eu escutava os gritos das parturientes que choravam as dores do parto. Naquele tempo a anestesia não estava devidamente desenvolvida.

Outro prédio era a Casa do Estudante, um alojamento para estudantes de medicina. Ali fiz muitos amigos e aprendi como era feita a carcaça do corpo humano.

Finalmente, bem próximo ao prédio da escola, estava o Necrotério, onde se congelava os cadáveres enquanto aguardavam a necrópsia e o sepultamento merecido.

Ocorre que o Necrotério vendia aos estudantes de medicina ossos inteiros, costelas, tíbias e crânios, para estudarem em suas casas.

Curioso, eu também comprei o meu, que guardei com muito zelo e respeito, por muitos anos até que lhe pude dar um sepultamento adequado. Na verdade, fiz uma cremação. No quintal de minha casa, cortei um pé de eucalipto da variedade Citriodora, a madeira mais aromática, e fiz uma grande fogueira.

Depositei ali o ilustre anônimo, invoquei meus Orixás e rezei meu “Requestat in pace, Amen”.

Por que conto isto agora?   Porque, agora, e eu me refiro há poucas semanas atrás, deram de me aconselhar a furar o crânio. “Credo cruis ! Que coisa mais estapafúrdia”

Eu tive um AVC três anos atrás. Com a ajuda dos médicos fui melhorando e fiquei praticamente recuperado. Mas o tempo, que não espera por ninguém, foi cumprindo o seu papel e as pernas ficaram bambas. Problema de vascularização nos membros inferiores, diagnosticaram os exames. Muito bem, contratei uma massagista para fazer a drenagem linfática.

Mas alguém me alertou:

-- Você tem água na cabeça !

Como é que essa água se formou ali, me perguntei. Desconfiei logo na qualidade do vinho que eu estava bebendo. Talvez estivesse muito fluido e o cérebro o interpretou como imprestável.

-- Você tem que tirá-la! Tira-la como? Comecei a procurar por onde. Quantos orifícios temos no corpo? As narinas. Nada. Os ouvidos. Nada. Os olhos. Nada. Sobraram o Fio-fó e o Bilau. Estão   muito longe, melhor esquecê-los.

Vou ter que furar o crânio.  

Longe de me desesperar, resignei-me. E feliz com os meus sentimentos, aguardarei a hora de subir a Montanha de Narayama.

E, lá do alto, olharei para baixo e direi orgulhosamente:

São “OS MEUS AMIGOS.”

 

 

 

 

06 abril 2023

VIDA QUE SEGUE

 CAPÍTULO 8

 Banco de Investimentos COPEG  -  Rio de Janeiro

 O meu tempo de trabalho no Banco do Nordeste do Brasil durou pouco. Praticamente limitou-se ao ano de 1969. Fundada a CTA – Consultores Têxteis Associados, comecei a trabalhar por minha conta. Fui Consultor do BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico em diversas missões, Consultor do Mercado Comum Andino em Lima – Peru e Consultor do BADESP – Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, sempre para assuntos relativos à indústria têxtil.

 Em 1972, fui nomeado Diretor do Banco de Investimentos COPEG, o Banco estadual de desenvolvimento do Estado da Guanabara, correspondente ao BANERJ, o banco comercial. Na COPEG ocupei o cargo de Diretor de Crédito Industrial.

Em 1974 fui indicado para ocupar o cargo de Diretor Superintendente, na qualidade de interventor, do grupo Dona Isabel, que englobava quatro              Empresas, inclusive uma no Rio Grande do Sul. O grupo se encontrava inadimplente junto à COPEG e era considerado de difícil recuperação. Um trabalho penoso e exaustivo que durou até 1976, quando foi devidamente  sanado. Na Diretoria Executiva havia também um Diretor Administrativo e um Diretor Financeiro. Concomitantemente, tínhamos um Presidente, sem função administrativa, que representava a Empresa com poderes nunca bem definidos.

Um dia fomos surpreendidos com a notícia de que o Diretor Financeiro iria ser substituído. Liguei para o Presidente e perguntei se confirmava a notícia. Comuniquei que, em caso positivo, eu entregaria o cargo. Foi o que aconteceu. Os demais diretores, num gesto de solidariedade, me acompanharam. Eu sabia que ficaria desempregado, mas era o meu dever.                     

 No dia seguinte, para minha surpresa, recebi uma chamada telefônica:

-- “Você vem trabalhar com a gente.”

Era o Ex. - Governador do Rio Grande do Norte  Aluízio  Alves, Vice-Presidente Executivo da UEB – União de Empresas Brasileiras.

No dia 26 / 02 / 1976, eu era nomeado  Diretor  de Coordenação Industrial, com a  “atribuição básica de coordenar as atividades operacionais das  Empresas Industriais da UEB.

 Primeira tarefa:  “Implantação de um Parque Têxtil no Estado do Rio Grande do Norte”