07 julho 2024

 

ESTOU VELHO

Severino Mandacaru

Eu nunca trocaria meus diletos amigos, minha vida maravilhosa, minha amada família, por nada neste mundo. Enquanto fui envelhecendo tornei-me mais amável e menos crítico para comigo mesmo.  E me tornei “o melhor amigo de mim mesmo” . . .

Hoje não me censuro por comer um biscoito a mais ou uma cocada venenosa, por não fazer a minha cama ou comprar uma gerigonça qualquer de que não preciso. E me dou o direito de ser extravagante.

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de aprenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se vou ficar lendo ou jogar bolinha de gude até quatro horas ou dormir até meio dia?

Vou dançar com as canções de carnaval dos anos 60 e70.

Vou andar na praia metido nem calção largo cobrindo um corpo decadente, sob o olhar penalizado dos mais jovens. Não importa, eles também vão envelhecer.

Eu sei que muitas vezes esqueço algumas palavras. Mas há coisas na vida que merecem ser esquecidas.

Claro, ao longo dos anos meu coração foi se quebrando. Como evitar isso quando você perde um ente querido, quando vê uma criança sofrer ou alguém torturado por preconceito racial.

Eu sou abençoado por ter vivido o suficiente para gravar no meu rosto o sulco das minhas risadas e a sombra das minhas lágrimas. Na medida em que se envelhece, torna -se mais positivo. Eu não me preocupo mais com o que os outros pensam a meu respeito. Eu não me questiono mais. Que a nossa amizade seja perpétua.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Que beleza, vovô! Espero que ao chegar na sua idade também tenha a sabedoria de me tornar extravagante. Viver se preocupando com estar dentro do comum é muito chato!

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  3. Essa crônica veio em ótima hora! Você não imagina que sua neta, prestes a completar 28 anos, se deparou com um novo reflexo em uma manhã qualquer e descobriu novas expressões cravadas em sua pele. É curioso imaginar as caretas que me trouxeram até aqui. Não só risadas deixam marcas, mas, como suas crônicas, cada linha conta uma história!

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  4. Me deixei como anônima neste comentário, só para causar um suspense inicial (não foi bem isto; deu um erro qualquer ao conectar a conta do google). Meu querido Luigi, o tempo é algo curioso. E quando consegue despertar uma sin era amizade de nós conosco mesmo, acredito que seja o suprassumo da beleza humana. Eu no auge dos meus 35 já começo a tecer qualquer elo bem sucedido com essa minha parceira de vida que sou eu mesma. Ma questo è un rapporto molto difficile! E aprender a não nos cobrar tanto é uma belíssima lição de vida. Obrigada por suas palavras, sempre rebatedores. Em breve vou passar para um café. Un bacio grande, Núbia

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  5. Vou plagiar suas netas na abordagem...como é bom usufruir da visão, do toque, da sensibilidade de poder perceber que o rosto está gravado com o sulco das risadas!
    Maravilha!!!!
    Viver é tudo isso, também!

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