PEDAÇOS DE MIM MESMO
INTRODUÇÃO
Falar de si mesmo é muito feio. Nem todos
concordam com isso mas eu mesmo acho horrível. Passamos a vida inventando
lorotas e blasonando-nos com bravatas ameaçadoras que fariam inveja ao próprio
Capeta.
Eu mesmo me aproveitei disso quando postava
crônicas com o mestre Felipe Pena e ele solicitou que cada um de nós definisse
o seu perfil em poucas linhas. E eu escrevi :
“Vaidoso como um pavão, escreve para se
exibir. Não acredite nessa foto, ele é careca”
Isso porque me haviam fotografado com um chapeuzinho
de malandro.
Passaram-se os anos. Muitos anos. Exatamente 88 anos.
CAPÍTULO 1
1 – Minha primeira Pátria
Desembarquei no porto de Santos, Estado de São Paulo, aos quatro anos de idade. Eu acompanhava minha mãe, Teresina Alberti Spreafico, meu irmão Francesco e minha irmã Barbarina. Havíamos embarcado em Gênova num navio de bandeira francesa chamado Alsina e navegamos durante 30 dias. Meu pai, Guglielmo Spreafico, havia chegado dois anos antes e providenciado nossa acomodação. Depois de uns poucos dias em Santos, fomos alojados no Centro de São Paulo, primeiro no bairro de Santana e depois na Vila Maria. Vila Maria ! Do cume do morro da Vila Maria, onde ficava nossa casa, eu contemplava a cidade ao fundo, com suas luzes resplandecentes e seus mistérios de cidade cosmopolita. Senti que era a minha pátria.
Alcancei os 9 anos de idade. E com eles, a Segunda Guerra Mundial. Meu pai era gerente mecânico de uma empresa italiana chamada Estabelecimentos Mecânicos Rossa. Éramos súditos de Eixo. Meu pai estava prestes a perder o emprego.
No entanto, quis o destino que as coisas
se acomodassem como num passe de mágica. Em Pernambuco, o grupo de fábricas têxteis
Lundgren, que empregava muitos técnicos italianos e alemães fora obrigado demiti-los,
justamente por serem súditos do Eixo. (ver nota) E convidou meu pai para
assumir o lugar de gerente das oficinas mecânicas da Fábrica Aurora, em Paulista,
Pernambuco.
NOTA: O grupo Lundgren havia construído uma cidade, que chamou de Paulista, a poucos quilômetros do Recife, onde implantou duas fábricas de tecidos. Para não demitir os técnicos do Eixo construiu um condomínio com casas de madeira onde alojou suas famílias, totalmente isoladas.
Meu pai, como era indispensável para operar as turbinas a vapor que geram a energia para as fábricas, foi autorizado a permanecer em casa, porem acompanhado por um soldado, 24 hora por dia. Dessa forma a empresa recebeu autorização do governo para operar.
Nesse ponto, chegou a nossa vez. A empresa
providenciou o transporte da família, que estava na Vila Maria. Como estávamos em
guerra, recebemos instruções para preparar nossas malas e aguardar, que um carro
nos iria recolher. Dias depois o carro chegou e nos levou ao porto de Santos.
Mesmo processo. Fomos colocados em um hotel. Aguardar. Dias depois, de
surpresa, fomos colocados a bordo de um navio da Costeira, chamado Itaquicé.
Todos a bordo ! Para Recife !
Brava gente esses italianos!
ResponderExcluirVocê vai ver quando chegarem os Nordestinos
ExcluirQue venham os Nordestinos e muito mais. A vida contada, cantada, sorrida e chorada é a vida vivida e revivivida nas lembranças, e propagadas no sensato ato de escrevê-la e registrar a história de quem a viveu e continua vivendo e construindo o seu viver. Desde os seus 4 anos de idade já havia a guerra, passaram 90 anos e ainda existem guerras. Quantas crianças hoje recomeçam a vida em nova Pátria sonhando um futuro? Seu exemplo de perseverança e persistência poderá motivá-las a não desistirem de estudar e trabalhar acreditando que a paz também vai chegar!
ResponderExcluirGratidã☀️!
ResponderExcluirQue Introdução!!!!
ResponderExcluirUma carta para você e para todos que te admiram e buscam exemplos de persistência e determinação!
Parabéns pelo começar!