“ É preciso mudar para que tudo fique como está.”
Esta declaração foi feita por Giovanni Tommaso, conde de
Lampedusa, na obra “ Il Gattopardo ”, onde ele narra a decadência da aristocracia
italiana e a luta de Garibaldi pela unificação da Italia.
Se você não mudar, você não permanece o mesmo, você regride,
pois tudo à sua volta estará progredindo, inclusive a Pandemonia, essa praga
inclemente que nos mantém entre quatro paredes, perambulando como almas penadas.
E assim vamos levando, alimentados por comida que nos chega no lombo de uma
motocicleta, e remédios entregues pelo correio. No Banco, ninguém pisa mais e o
dinheiro circula nas telas do celular. Pagamos contas e fazemos consultas médicas
com os APPs ou Tizapps, e trocamos informações através das mídias sociais, esse prodígio tecnológico
que tanto nos pode elevar intelectualmente como imbecilizar pela resto da vida.
E cuidado que, como qualquer goiaba bichada, elas chegarão com seus hequers,
feique níus e a alma do capeta disfarçada em querubim alado. Cuidado ainda
maior com os algoritmos programados para determinar como vai ser o teu futuro, bagunçar
o teu presente e escarafunchar o teu passado.
Portanto, como aconselhou o Conde de Lampedusa, estou
mudando. Fiz uma visita ao meu bambuzal no Solar do Cônego, onde passei tantos
anos cuidando dos meus gambás, jacus, saíras e micos, e contemplando o Chapéu da
Bruxa. Ao longe, a Montanha de Narayama
impunha sua majestade sobre o vale, esperando
novas visitas. Os deuses, me olhavam de soslaio. Eu disfarçava e fingia
contemplar a neblina.
E assim voltei ao meu Castelo, com seus ditosos 40 metros
quadrados. Uma coisa porém, havia mudado: as pernas que me sustentam não são mais
as mesmas. O centro de gravidade perdeu seu prumo. O equilíbrio é incerto. Deslocar-se
é uma aventura.
Foi quando meu filho me convidou para uma caminhada, Como
ele me acompanhava, aceitei de bom grado. A poucos metros do Castelo, bem próximo
do Bistrô Primavera, entramos por uma vereda arborizada e bem pavimentada. Andamos
durante cinco minutos até chegarmos a um imenso jardim florido. Nele, três bucólicos
chalés, distantes entre si, pareciam formar a ante sala do Paraíso. Num deles,
um portal em arco era coroado por um bouganville lilás. Parando na frente, meu
filho decretou:
“Aqui está sua nova residência”
E foi assim que eu me mudei para a Mansão no Paraíso.
ResponderExcluir… andei com você, ao ler sua crônica, Seu Gino. Caminhei em silêncio, pela vereda arborizada, aguardando o desfecho. E distante fisicamente, mas, com o coração repleto de gratidão, sorrir ao saber que estás agora na Mansão do Paraíso!
“ É preciso mudar para que tudo fique como está.”
Obrigado, Ana Alice. Consagrarei a primeira visita recebida pela Mansão e darei noticias do Severino Mandacaru e suas bravatas no Paraíso.
ExcluirQue relato emocionante, vovô.
ResponderExcluir"...E assim vamos levando, alimentados por comida que nos chega no lombo de uma motocicleta, e remédios entregues pelo correio. No Banco, ninguém pisa mais e o dinheiro circula nas telas do celular. Pagamos contas e fazemos consultas médicas com os APPs ou Tizapps, e trocamos informações através das mídias sociais, esse prodígio tecnológico que tanto nos pode elevar intelectualmente como imbecilizar pelo resto da vida..."
Para mim esse trecho sintetiza completamente o que estamos vivendo desde o ano passado. E de fato a tecnologia pode tanto nos aproximar como nos afastar uns dos outros.
Mas mesmo assim, mesmo com um cenário caótico do mundo exterior, fico feliz que encontramos esse pequeno lugar, simples e bucólico, mas que de fato é um pedaço do paraíso!
Muito oportuno e incentivador o teu comentário, Marina. Obrigado. Vamos em frente, transformando limões em limonadas e ofensas em metáforas.
ExcluirAnsiosa para ver você receber o Severino Mandacaru para uma limonada (Ou quem sabe até uma caipirinha, já que estas também são feitas com limão), na tua Mansão no Paraíso.
ResponderExcluirAnsiosa também, para a Mansão ter, como dizem as minhas filhas, "cheiro da casa da vovó", que seria um misto de cheiro de molho de tomate, funghi, pão queimado, comida boa e roupa limpa....
Obrigado pelas lembranças. A mansão abrigará também nostalgias, desejos, espectativas e o que mais couber. E fica longe da Montanha de Narayama.
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